Em mais um passo rumo ao seu retorno às competições e compromissos extra-quadra, a tenista japonesa Naomi Osaka publicou um artigo na revista americana Time, em que reitera as suas posições a respeito da obrigatoriedade das entrevistas coletivas nos torneios. A atual número 2 do ranking da WTA reforça que nunca teve problemas com os profissionais de imprensa, mas que o formato adotado pelo circuito profissional precisa de mudanças.
Depois de anunciar que não daria entrevistas durante Roland Garros, Grand Slam disputado em Paris entre o final de maio e começo de junho, Osaka abandonou a disputa antes de atuar pela segunda rodada, por complicações relacionadas à sua saúde mental. A japonesa de 23 anos também não atuou durante a temporada de grama e desistiu de jogar em Wimbledon. Seu retorno às competições está previsto para os Jogos Olímpicos de Tóquio-2020 no final deste mês.
"Nas últimas semanas, minha jornada tomou um caminho inesperado, mas que me ensinou muito e me ajudou a crescer. Aprendi algumas lições importantes. Você nunca pode agradar a todos, o mundo está tão dividido agora que questões que são tão óbvias para mim, como usar uma máscara em uma pandemia ou ajoelhar-se para mostrar apoio ao antirracismo, são ferozmente contestadas. Então, quando disse que precisava perder as coletivas de imprensa do Aberto da França para cuidar de mim mentalmente, deveria estar preparada para o que se desenrolou", escreveu Osaka.
"O problema nunca foi a imprensa, mas sim com o formato tradicional das entrevistas coletivas. Vou repetir: eu amo a imprensa, sempre gostei de um relacionamento incrível com a mídia e já dei inúmeras entrevistas mais detalhadas e individuais. Mas não amo as entrevistas coletivas", explicou a vencedora de quatro títulos de Grand Slam.
"Com exceção às superestrelas, que estão por no circuito há muito mais tempo do que eu (Novak Djokovic, Roger Federer, Rafael Nadal e Serena Williams), penso que dediquei mais tempo à imprensa do que muitos outros jogadores nos últimos anos. Sempre tento responder com sinceridade e de coração. Eu nunca tive media-training . A meu ver, a confiança e o respeito do atleta para com a imprensa são recíprocos", prosseguiu Osaka.
"No entanto, na minha opinião (e não estou falando em nome dos outros tenistas), o formato de entrevistas coletivas em si está desgastado e carece muito de uma atualização. Acredito que podemos torná-lo melhor, mais interessante e mais agradável para os dois lados", argumentou a ex-líder do ranking da WTA. "Após reflexão, me parece que a maioria dos jornalistas que cobrem o circuito não concorda. Para a maioria deles, a tradicional entrevista coletiva é sagrada e não deve ser questionada. Uma de suas principais preocupações era que eu pudesse abrir um precedente perigoso, mas que eu saiba, ninguém no tênis deixou de dar uma entrevista coletiva desde então. A intenção nunca foi inspirar revolta, mas sim olhar criticamente nosso local de trabalho e perguntar se podemos fazer melhor".
Osaka também se defendeu das críticas ao lembrar de sua assiduidade nos compromissos extra-quadra. A japonesa também afirmou que a imprensa e a organização de Roland Garros não acreditaram nela e a fizeram expor demais sua vida pessoal. "Os atletas são humanos. O tênis é uma profissão privilegiada e, claro, temos compromissos fora da quadra. Mas não consigo imaginar outra profissão em que um registro de frequência consistente fosse examinado de forma tão severa. Eu só faltei a uma entrevista coletiva em meus sete anos no circuito".
A tenista agradeceu às mensagens de apoio que recebeu de atletas de diferentes modalidades, personalidades e também de pessoas anônimas, mas que também sofriam dos mesmos problemas que ela. "Ficou evidente para mim que literalmente todo mundo sofre de problemas relacionados à saúde mental ou conhece alguém que sofre. O número de mensagens que recebi de um grande número de pessoas confirma isso. Acho que podemos concordar quase universalmente que cada um de nós é um ser humano e está sujeito a sentimentos e emoções", finalizou.