Após recuar mais de 2% na terça-feira, quando emendou seu quarto pregão seguido de queda e zerou os ganhos em maio, o dólar subiu na sessão desta quarta-feira, 18, em um movimento de correção amparado pelo ambiente externo negativo. Relatos de novas medidas restritivas na China, que sustenta a política de covid zero, e a leitura de que os Bancos Centrais dos países desenvolvidos, em especial o Federal Reserve (Fed, o BC norte-americano), terão que ser mais agressivos para conter a inflação preocupam os mercados. Em uma clássica fuga para a qualidade, investidores abandonaram bolsas e correram para se abrigar na moeda americana e nos títulos do Tesouro americano.
Esse movimento se traduziu por aqui em tombo do Ibovespa e alta do dólar, embora em ritmo mais moderado do que o azedume lá fora e a perda de fôlego das commodities agrícolas e metálicas poderiam sugerir.
Em alta desde a abertura dos negócios, o dólar flertou com o rompimento do patamar de R$ 5,00 no meio da tarde, ao correr até a máxima de R$ 5,0003 (+1,16%), mas logo perdeu fôlego. Oscilando entre os patamares de R$ 4,98 e R$ 4,99, a divisa encerrou o dia cotada a R$ 4,9826, em alta de 0,80%.
Analistas apontam que a elevada taxa de juros doméstica, que atrai capitais de curto prazo para "<i>carry trade</i>" e torna custosa aposta comprada em dólar, daria certo suporte à moeda brasileira. Operadores também citaram como possível entrave para uma escalada mais forte do dólar nesta quarta declarações do diretor de Política Monetária do Banco Central, Bruno Serra, em evento pela manhã em São Paulo.
Serra disse que o BC tem "instrumentos para combater uma eventual volatilidade adicional do câmbio" e que, se precisar subir mais o juro porque o juro global sobe, "a gente pode fazer". O diretor do BC lembrou que o real é uma das melhores moedas em desempenho no mundo nos últimos 12 meses, seis meses e no acumulado deste ano, "o que faz sentido nesse momento em que o Brasil se beneficia do choque de oferta global".
O economista-chefe da Infinity Asset, Jason Vieira, atribui a derrocada dos ativos de risco nesta quarta, sobretudo, à incerteza sobre a intensidade e o ritmo de ajuste dos juros nos Estados Unidos, dados os sinais erráticos emitidos por autoridades do BC americano, em especial a fala de terça do chairman Jerome Powell. Embora tenha dito que há "amplo apoio" no comitê de política monetária da instituição para alta de 50 pontos-base dos Fed Funds em junho, Powell se mostrou preocupado com a inflação e afirmou que não hesitará em levar a taxa de juros além do nível neutro.
"O Fed não consegue emitir um sinal claro sobre o cenário para os juros nos EUA. O mercado não está comprando essa ideia de que não vai ser preciso subir os juros com mais força. A sensação é de que o Fed terá que ir muito além do que está dizendo", afirma Vieira, ressaltando que os índices de inflação na Europa, divulgados nesta quarta, mostram que a inflação tem é um problema global. "O dólar não sobe tanto por aqui porque ainda tem interesse do estrangeiro por Brasil, em um posicionamento global para emergentes, e um pouco de <i>carry trade</i>."
O índice de preços ao consumidor (CPI) da zona do euro mostrou alta anual de 7,4% em abril, um pouco abaixo do esperado (7,5%), mas ainda em nível recorde. Já o CPI no Reino Unido marcou alta de 9% em abril na comparação anual, aceleração em relação a março e no maior nível em mais de 40 anos. Autoridades do Banco Central Europeu (BCE) falaram duro nesta quarta e há quem veja possibilidade de alta da taxa de juros na região no início do segundo semestre.
A economista Cristiane Quartaroli, do Banco Ourinvest, vê a alta do dólar nesta quarta no mercado doméstico como um movimento de "correção" após a forte queda de terça, estimulado nesta quarta-feira pela aversão ao risco no exterior. "O mercado ainda está na dúvida sobre o comportamento do Fed nos próximos meses. Apesar de dizer que vai manter o ritmo de alta de 50 pontos-base na próxima reunião, o mercado tem dúvidas, o que pressiona o câmbio", diz Quartaroli. "Além disso, tivemos notícia de novo <i>lockdown</i> na China, o que preocupa porque pode se refletir em crescimento menor."