Acentuado em agosto com avanço quase sem quebras até esta sexta-feira, o Ibovespa teve longa série de recuperação no mês, uma retomada que o tirou das mínimas desde novembro de 2020, na metade de julho, para os maiores níveis desde abril de 2022, nesta semana. No intervalo de pouco mais de 30 dias, saltou dos 95 mil, durante as sessões de 14 e 15 de julho, para os 114 mil pontos vistos na quinta e na quarta-feira no intradia. A rápida escalada amadureceu realização de lucros que veio hoje, motivada por cautela externa, não doméstica.
Ainda assim, espera-se um ritmo menor de caminhada no curto prazo, considerando que o início oficial do calendário eleitoral, na última terça-feira, deve trazer aos ativos domésticos um grau maior de volatilidade após o entusiasmo recente, deflagrado em especial pela sinalização do BC de que o ciclo de ajuste de juros está concluído ou bem perto disso, no Brasil.
Nesta sexta-feira, o Ibovespa caiu 2,04%, aos 111.496,21 pontos, entre mínima de 111.146,15 e máxima de 113.807,29 pontos, correspondente à abertura da sessão. Em dia de vencimento de opções sobre ações, o giro financeiro ficou em R$ 28,2 bilhões. Tendo fechado a sessão de quinta-feira com ganho de 10,32% no mês, o Ibovespa aparou nesta sexta-feira o avanço de agosto a 8,08%, cedendo 1,12% na semana, resultante da correção desta sexta. No ano, sobe 6,37%.
A perda veio após quatro semanas de ganhos, o maior dos quais na semana passada, quando o índice da B3 teve avanço de 5,91%. A retração no dia foi apenas a terceira do mês, em 15 sessões até aqui em agosto – as perdas ocorreram logo no dia 1º, e depois em 11 de agosto e nesta sexta-feira. No mês, portanto, após abertura negativa, houve uma série de sete ganhos, a mais longa desde março passado, seguida por outra, de cinco altas, interrompida agora.
"Os fundamentos micro, das empresas, voltaram a ser olhados nesta temporada de resultados trimestrais, muito boa e agora já perto do fim. Os números positivos ajudam a entender a atração de fluxo estrangeiro para a B3 como não se via desde o começo do ano. Houve resultados muito positivos no segundo trimestre, chegando em momento no qual o P/L estava em 7 vezes, no menor nível em décadas", diz Felipe Moura, analista da Finacap. "Tivemos hoje uma correção técnica, realização de lucros saudável e aguardada, considerando que o Ibovespa acumulou recuperação em torno de 20% em relação ao piso do ano, cerca de 30 dias atrás."
"Lá fora, ainda há preocupação com a inflação, temores em relação ao ajuste de juros nas maiores economias, com a sensação de que esses BCs podem ainda estar atrás da curva, mesmo com a recente melhora vista nos índices de preços. Hoje, por sinal, a inflação ao produtor na Alemanha pesou, contribuindo para a cautela, essa aversão a risco desde o exterior, na sessão", observa o analista da Finacap.
A correção nesta sexta-feira na B3 se espalhou pelas ações e segmentos de maior peso no índice, como commodities e financeiro. Destaque para Petrobras, que na quinta havia sustentado a leve alta do Ibovespa, e nesta sexta acentuou perdas ao longo da tarde, encerrando o dia com quedas de 4,07% (ON) e de 5,06% (PN). Entre os grandes bancos, as perdas na sessão chegaram a 1,84% (BB ON). Vale teve ajuste mais discreto nesta sexta-feira (ON -1,12%), após baixa na casa de 2%, na quinta.
Na ponta ganhadora do Ibovespa, destaque na sessão desta sexta para Minerva (+2,55%), IRB (+1,85%) e Hypera (+1,70%), com Locaweb (-7,72%), Azul (-7,63%), Gol (-7,30%), MRV (-7,28%) e Magazine Luiza (-6,20%) no lado oposto.
No Brasil, em dia de agenda também esvaziada, o mercado ficou "refém do humor externo", observa em nota a Guide Investimentos, destacando lá fora o "vencimento de US$ 2 trilhões em contratos de opções sobre ações", no momento em que os investidores ainda digerem "falas mais duras de membros do Fed o BC americano".
"Dia de forte queda nos mercados internacionais já mirando mais aperto monetário, com retomada das apostas de alta de 75 pontos-base em setembro na taxa de juros dos Estados Unidos, após os mercados terem chegado a acreditar que o Federal Reserve seria mais suave", diz Piter Carvalho, economista da Valor Investimentos.