Estadão

Após três pregões de queda, dólar volta a subir alinhado ao exterior

Após três pregões seguidos de queda, em que acumulou desvalorização de 2,28%, o dólar à vista avançou nesta quarta-feira e voltou a se aproximar do nível de R$ 5,15 no fechamento. Investidores aproveitaram nova onda global de fortalecimento da moeda americana e de alta das taxas dos Treasuries para realizar lucros e ajustar posições no mercado doméstico.

Apesar das preocupações com o quadro fiscal doméstico, em meio aos esforços do governo para barrar a chamada pauta-bomba no Congresso, o ambiente externo teve papel preponderante na formação da taxa de câmbio. Dados de encomendas de bens duráveis nos EUA em março acima do esperado anularam o efeito da leitura mais amena na terça-feira dos PMIs da S&P Global em abril – e deram força à expectativa de apenas uma redução da taxa de juros pelo Federal Reserve neste ano.

Com máxima a R$ 5,1718, pela manhã, o dólar à vista encerrou a sessão desta quarta-feira, 24, em alta de 0,35%, cotado a R$ 5,1482. Na semana, a moeda agora apresenta baixa de 0,98%. Em abril, contudo, ainda acumula valorização de 2,65%.

O real, que vinha apresentando desempenho inferior a de seus pares, nesta quarta sofreu menos que os pesos mexicano e colombiano, além do rand sul-africano. Destaque para nova rodada de alta do peso chileno, que se recupera em abril das perdas pesadas ao longo do primeiro trimestre graças à alta firme dos preços do cobre.

"Temos hoje um dia de mais estresse nos juros americanos, com as taxas dos Treasuries para cima, o que acaba fazendo o dólar subir. O ambiente é de volatilidade com a expectativa pelo PCE nos EUA, que sai na sexta-feira", afirma o especialista Wagner Varejão, da Valor Investimentos, em referência ao índice preços de gastos com consumo (PCE, na sigla em inglês), medida de inflação preferida pelo Fed. Na quinta-feira, sai a primeira leitura do PIB americano no primeiro trimestre.

Em evento nesta quarta, o diretor de Política Monetária do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, voltou a defender a postura da autarquia de não intervir no mercado de câmbio na semana passada, quando o dólar à vista se aproximou de R$ 5,29. Ecoando o presidente do BC, Roberto Campos Neto, Galípolo disse que o BC deixou que a taxa de câmbio absorvesse a reprecificação global de ativos, com fortalecimento global do dólar diante da perspectiva de taxa de juros elevada por mais tempo nos EUA.

Galípolo defende que o BC adote "parcimônia e serenidade" e evite reagir rapidamente à variação de preços de ativos e seu impacto sobre a inflação. "A gente não tem meta de diferencial de juros e não tem meta de taxa de câmbio, a gente tem meta de inflação, que vem se comportando bem", disse.

Em Brasília, as atenções se voltam à pauta econômica, com envio dos projetos de lei da reforma tributária ao Congresso e a tramitação de propostas que podem implicar aumento de gastos. O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), deu uma boa notícia ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, ao dizer que a chamada PEC do Quinquênio, com impacto estimado pelo governo em R$ 42 bilhões, não tem chance de prosperar na Casa. A PEC é patrocinada pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e representa um dos principais projetos da pauta-bomba.

"Após uma semana tensa em torno da revisão da meta fiscal, o cenário político local se mostra um pouco mais calmo com a aproximação entre governo e Congresso. Lula aprovou o texto da regulamentação da reforma tributária e ressaltou a importância da boa relação entre os poderes", afirma o head de câmbio para o norte e nordeste da B&T Câmbio, Diego Costa, que vê o dólar rodando entre R$ 5,10 e R$ 5,20 até a divulgação do PCE, nos EUA, na sexta-feira.

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