A China substituiu o Ministro das Relações Exteriores Qin Gang, que foi visto em público pela última vez há um mês. O anúncio é combustível para as especulações sobre a política interna do Partido Comunista, que ganharam força com o desaparecimento misterioso do agora ex-chanceler.
A troca no comando da pasta foi confirmada pela imprensa estatal chinesa, sem qualquer explicação sobre o motivo da substituição de Qin Gang pelo seu antecessor, Wang Yi, depois de apenas sete meses.
O movimento foi aprovado em uma reunião atípica do Comitê Permanente do Congresso Nacional do Povo, o que alimentou ainda mais os boatos sobre o que estaria acontecendo no partido. O conselho responsável pela nomeação dos altos funcionários costuma se reunir no fim do mês e foi convocado às pressas para um rápido encontro antes da demissão de Qin ser confirmada.
No mês passado, o diplomata esteve no centro de um momento crítico para a difícil relação entre Pequim e Washington: a primeira viagem de um secretário de Estado americano à China em cinco anos. O então chanceler se reuniu com Antony Blinken e aceitou o convite de fazer uma visita recíproca aos EUA.
<b>Sumiço</b>
Cerca de uma semana depois, no dia 25 de junho, Qin Gang encontrou diplomatas de Rússia, Vietnã e Sri Lanka. De lá para cá, não foi mais visto em público. Os compromissos previstos neste período de um mês foram cancelados ou Wang Yi foi em seu lugar.
O Ministério das Relações Exteriores da China chegou a atribuir a ausência a problemas de saúde. A menção, no entanto, foi apagada da transcrição da entrevista coletiva. Desde então, a pasta se limitou a dizer que não tinha informações.
"O longo silêncio tem sido extremamente prejudicial para a diplomacia da China", disse Neil Thomas, especialista em política chinesa do Asia Society Policy Institute, de Washington. "O vício do partido em segredo em suas operações internas está tendo um efeito debilitante na capacidade do país de trabalhar com o mundo exterior."
A falta de informações abre espaço para diferentes teorias. Uma delas é a de que o problema seriam transgressões do diplomata na vida pessoal e até a possibilidade de um caso com uma personalidade da televisão chinesa foi levantada. Nenhum dos rumores, no entanto, foi confirmado.
<b>Ascensão</b>
Apesar das inúmeras hipóteses, o fato é que a troca de comando no Ministério das Relações Exteriores interrompe a ascensão de Qin Gang, que ganhava cada vez mais protagonismo na diplomacia assertiva da China sob o comando de Xi Jinping.
O ex-ministro de 57 anos se graduou na Universidade de Relações Internacionais de Pequim, ligada ao serviço de segurança da China. No início da década de 90, entrou na pasta onde fez carreira e ganhou destaque como porta-voz do ministério. Depois, se aproximou de Xi enquanto atuava como diplomata em Londres e organizou várias viagens do líder chinês.
Em 2021, foi nomeado embaixador em Washington, cargo que ocupou por cerca de um ano e meio, até assumir o Ministério de Relações Exteriores, passando à frente de diplomatas mais experientes.
No comando da pasta, liderou os esforços para retirar a China do isolamento diplomático que marcou o período da pandemia e tentou aliviar tensões com os EUA, ao mesmo tempo em que se mostrava um expoente combativo das posições chinesas.
Qin era um dos principais proponentes da política externa cada vez mais agressiva de Pequim, incluindo o apoio político e econômico à Rússia durante a guerra na Ucrânia. Apesar da substituição no Ministério de Relações Exteriores, ele não foi expulso do Partido Comunista e não há informações sobre o cargo de conselheiro que ele ocupava.
<b>Volta</b>
No lugar dele, volta à cena o ex-ministro Wang Yi, que ocupou o cargo por quase dez anos. O velho conhecido na diplomacia chinesa também atua como conselheiro de política externa.
O movimento não parece sinalizar nenhuma mudança significativa na política externa rígida adotada nos últimos anos por Xi à frente da segunda maior economia do mundo. Mas a queda de um protegido do presidente chinês é um mistério até agora sem solução. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>