Foram quatro anos de negociações com instituições australianas e, finalmente, nesta sexta-feira, 2, serão apresentados ao público os dois primeiros coalas a viver em solo brasileiro. Princesa Julie e Rei Billy vieram do zoológico Darling Downs, de Queensland, na Austrália, e há duas semanas passam por aclimatação no Aquário de São Paulo, no Ipiranga, zona sul da capital.
“Adaptaram-se bem ao novo recinto. Alimentaram-se já na primeira noite em que chegaram. O processo foi tranquilo”, conta a veterinária Laura Reisfeld, que acompanha os animais. Para conseguir trazê-los, o Aquário de São Paulo precisou cumprir uma série de exigências da legislação brasileira – e, por condição imposta pelo zoológico cedente, também da lei australiana.
“O recinto tem eucaliptos frescos o tempo todo. E há um controle para que a temperatura nunca exceda os 30°C, para não deixá-los incomodados”, afirma Laura. A quem for visitá-los, uma observação relevante: é bem possível que eles estejam dormindo. O coala é um animal que tem cerca de 20 horas por dia de sono – nesse ponto, lembra muito o bicho-preguiça da fauna brasileira.
Julie e Billy já nasceram em cativeiro. “Na verdade, seus pais e avós também”, acrescenta a veterinária. Eles chegam ao País com 4 anos de idade, no início da maturidade sexual. Há uma expectativa, portanto, de que a partir do ano que vem já consigam se reproduzir. “A fêmea costuma ter um filhote por ano. E quem sabe, então, teremos os primeiros coalas nascidos no Brasil”, vislumbra Laura.
Trâmites
Apesar de se chamar Aquário de São Paulo, atualmente a instituição privada do Ipiranga abriga mais do que peixes. Desde que foi inaugurado, em 2006, o espaço não para de crescer. Hoje são cerca de 250 espécies diferentes, entre morcegos, pinguins, cangurus, suricatas, cobras e até uma preguiça.
No ano passado, o Aquário enfrentou uma polêmica por causa de um casal de ursos polares – que, desde dezembro de 2014, ocupa um recinto especial da instituição. Ambientalistas organizaram diversos protestos na frente do prédio, pedindo que os bichos fossem devolvidos ao seu hábitat natural. Mas a administração do zoológico defende-se, alegando que cumpre todas as exigências para proporcionar um relativo bem-estar ao animal em cativeiro.
Assim como no caso dos ursos, o trâmite burocrático dos coalas também passou por crivos do governo. No Brasil, é o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) que normatiza a construção de recintos para animais em cativeiro. Esses espaços são avaliados por uma comissão da Secretaria do Meio Ambiente do Estado.
O Aquário precisa, portanto, entregar todas as documentações pertinentes e adequar suas instalações a cada novo animal que recebe. Então, uma equipe técnica do Departamento de Fauna do Estado de São Paulo analisa o recinto, o cambiamento, a segurança do estabelecimento e o manejo dos animais. Aspectos sanitários e nutricionais também são avaliados.
Ambiente
No caso dos coalas, o governo australiano também solicitou informações sobre a participação do estabelecimento em projetos de conservação, conscientização e educação ambiental. Desde 2014, o Aquário de São Paulo mantém, no interior, uma plantação de diversas variedades de eucalipto, para conseguir variar a dieta dos coalas ao longo do ano – o cultivo é supervisionado pelo Instituto de Pesquisas e Estudos Florestais. Billy pesa 7 quilos e Julie, 5. Cada um come de 250 a 500 gramas de folhas de eucalipto por dia.
O Aquário emprega 36 profissionais apenas para o manejo dos bichos, entre biólogos, veterinários e tratadores, além de 22 educadores ambientais.