Ao ser questionado sobre as críticas feitas pelo presidente Jair Bolsonaro em relação às vacinas contra a covid-19, o ex-chanceler Ernesto Araújo se esquivou e repetiu a fórmula usada pelo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga. Em resposta ao senador Otto Alencar (PSD-BA), Araújo disse que não caberia a ele "concordar ou discordar" de declarações do presidente. A sessão foi suspensa por dez minutos após um bate-boca entre Alencar e o senador governista Eduardo Girão (Podemos-CE).
Ministro das Relações Exteriores de Bolsonaro até março deste ano, Araújo atribuiu a uma reação à política conservadora do governo Bolsonaro a origem das críticas direcionadas à gestão da pandemia no Brasil. "Acho que tem correlação sim com a proposta política do presidente. Uma proposta conservadora, se sabe da popularidade e força política dessa proposta, e na minha avaliação houve essa tentativa de desmerecer tudo o que era feito pelo governo", disse o ex-chanceler, que citou a criação do benefício emergencial como exemplo de "esforço" do governo brasileiro.
"Não vejo nenhum país onde tenha surgido uma atmosfera de politização como no Brasil, atmosfera onde praticamente qualquer iniciativa mencionada pelo presidente foi sistematicamente atacada por correntes políticas opostas antes de se ter dado sobre mérito científico, técnico", disse Araújo.
Uma das grandes bandeiras de Bolsonaro no combate à pandemia é a defesa do uso da cloroquina em pacientes com covid-19, mesmo sem comprovação científica da eficácia do remédio para esse fim.
"O Brasil claramente em nenhum parâmetro é um dos piores países do mundo (no combate à pandemia), é um dos melhores, e isso é resultado da gestão da pandemia", disse.
<b>Impulso de transformação</b>
Araújo ainda tentou amenizar o tom das críticas que dirigiu ao governo Bolsonaro um mês após sair do posto de chanceler. Numa série de mensagens publicadas no Twitter, o ex-ministro afirmou que a gestão perdeu a "alma" e o "ideal".
Ao ser questionado por Alencar se considerava o governo "desalmado", Araújo negou. Para ele, o que ocorreu foi um desgaste do "impulso de transformação".
"O impulso de transformação do governo me parece que se desgastou no último ano. Enquanto estive no governo sempre acreditei no governo com transformações profundas. Não tem propriamente críticas ao governo como um todo (nas mensagens). Acreditei e continuo acreditando que o governo tem capacidade de implantar transformações profundas", afirmou.