A Argentina pretende exportar para o Brasil entre 3 milhões e 4 milhões de toneladas de trigo em 2016 e chegar a até 6 milhões de toneladas em 2017, na estimativa traçada pelo presidente da Associação Argentina da Indústria Moageira (Faim), Diego Cifareli. Em entrevista ao Broadcast Agro, serviço em tempo real da Agência Estado, o executivo declarou que as mudanças trazidas pela política econômica do novo presidente do país, Mauricio Macri, como a suspensão dos impostos sobre a exportação do cereal e a flexibilização de importações, deram uma guinada nas expectativas dos produtores país. Neste cenário, o Brasil se reafirma como parceiro estratégico para o setor tritícola argentino. “Temos muito claro que o Brasil é o nosso principal sócio. Recebemos visitas de representantes brasileiros do setor este mês, como a Abitrigo (Associação Brasileira da Indústria de Trigo), e vamos trabalhar para melhorar a qualidade deste cereal e das farinhas produzidas na Argentina”, afirmou Cifareli.
O presidente da Faim reconheceu que boa parte do trigo colhido na temporada 2015/16 não atingiu o padrão de qualidade exigido pela indústria de panificação. “Colhemos um volume considerável de baixa qualidade, que impediu que expandíssemos as vendas para mercados mais exigentes”, admitiu. A partir de agora, contudo, produtores do país veem a possibilidade de investir mais nas lavouras do cereal, com sementes de melhor qualidade, fertilizantes e defensivos, já que a desvalorização do peso em relação ao dólar tende a trazer melhor remuneração para os exportadores do país vizinho. A produtividade das lavouras será um dos resultados dessa mudança. No ciclo 2016/17, deve aumentar ligeiramente em relação à média de 3,2 quilos por hectare colhidos na temporada atual.
Mas o principal resultado almejado com a maior aplicação de tecnologia no campo, segundo Cifareli, é a colheita de um trigo com maior qualidade do que a obtida na safra 2015/16. Ele enfatizou que a associação vem trabalhando junto com os produtores para promover uma mudança nas prioridades e direcionar as atenções às demandas da indústria consumidora. “Agora, mais importante do que o produtor pensar no quanto quer vender, é olhar para o mercado e o que ele demanda”, explicou.
Cifareli estima que, na temporada 2016/17, cujo plantio começa a partir de maio, os produtores argentinos devem expandir a área cultivada com o cereal entre 20% e 30% em relação aos cerca de 3,6 milhões de hectares atuais, para uma área de 4,2 milhões a até 4,5 milhões de hectares. A produção, que na temporada 2015/16 chegou a 11 milhões de toneladas de trigo, em 2016/17 pode alcançar de 15 milhões a 16 milhões de toneladas, das quais entre 5 milhões e 7 milhões tendem a ser exportados – a maior parte, para o Brasil. “Vamos alcançar uma produtividade igual ou maior que a atual, mas seguramente uma colheita com qualidade muito superior”, afirmou o presidente da Faim.
Apesar de dar prioridade ao Brasil como parceiro de negócios, os produtores argentinos querem recuperar a relevância que já ocuparam no mercado internacional do cereal. “A Argentina precisa se lembrar do esplendor que o setor do trigo teve em outras épocas, tanto em volume como em qualidade. Nosso mercado é o mundo, com trigo, farinhas, massas, biscoitos e produtos qualificados; vai além do abastecimento do mercado”, afirmou.
A associação planeja abrir novos mercados, em especial na América Central e na África. No primeiro caso, um dos alvos é Cuba, que nos últimos anos passou a consumir farinha da Turquia e da França. No continente africano, os argentinos querem recuperar espaço em Angola e explorar negócios na África Subsaariana. O retorno de maior fôlego do trigo argentino ao mercado internacional não deve pressionar as cotações da commodity, na visão de Cifareli, porque a produção do país ainda é pequena comparada à oferta mundial.
O país tampouco deve oferecer grandes riscos aos produtores gaúchos que planejam direcionar parte de sua produção de trigo não panificável para a exportação. “O principal mercado do setor na Argentina é o trigo pão. Hoje o trigo de baixa proteína é responsável por cerca de 30% da produção nacional, mas a ideia é retomar a participação histórica de 5% a 10% da colheita do país”, explicou. Segundo Cifarelli, a Argentina exportou aproximadamente 2 milhões de toneladas de trigo de baixa proteína em 2015.
Mercado
Nesta semana a comercialização foi lenta e pontual no mercado interno e os preços não oscilaram em relação ao observado desde janeiro. Em Curitiba houve oferta de R$ 800 por tonelada colocada no moinho e no norte do Estado do Paraná, de R$ 780 a R$ 800 na mesma condição. Mas os vendedores têm pedido entre R$ 760 e R$ 800 por tonelada FOB e, dessa forma, as negociações ficam paralisadas. Segundo corretor local, moinhos não têm relatado importação do cereal e dizem que as vendas fracas de farinha reduzem a demanda pelo produto.