Armas enviadas para a Ucrânia após a invasão da Rússia em fevereiro acabarão na economia oculta do tráfico de armas global e nas mãos de criminosos, disse nesta quinta-feira, 2, o chefe da Interpol.
Jürgen Stock diz que uma vez que o conflito termine, uma onda de armas pesadas inundará o mercado internacional e instou os Estados membros da Interpol, especialmente aqueles que fornecem armas para a Ucrânia, a cooperar no rastreamento de armas.
"Assim que as bombas silenciarem na Ucrânia, as armas ilegais virão. Sabemos disso de muitos outros conflitos. Os criminosos estão neste exato momento, enquanto falamos, focando neles", disse Stock.
"Grupos criminosos tentam explorar essas situações caóticas e a disponibilidade de armas, mesmo aquelas usadas pelos militares e incluindo armas pesadas. Elas estarão disponíveis no mercado paralelo de armas e criarão um desafio. Nenhum país ou região pode lidar com isso isoladamente porque esses grupos operam em nível global".
Stock acrescentou: "Podemos esperar um influxo de armas na Europa e além das fronteiras europeias. Devemos ficar atentos esperar que essas armas sejam traficadas não apenas para países vizinhos, mas para outros continentes".
Ele disse que a Interpol pediu aos membros que usem seu banco de dados para ajudar a "rastrear as armas". "Estamos em contato com os países membros para incentivá-los a usar essas ferramentas. Os criminosos estão interessados em todos os tipos de armas basicamente, qualquer arma que possa ser transportada pode ser usada para fins criminosos."
Os aliados ocidentais da Ucrânia enviaram carregamentos de armas militares de ponta desde a invasão russa há mais de três meses. Na terça-feira, o presidente americano, Joe Biden, anunciou que os EUA forneceriam a Kiev sistemas avançados de mísseis e munições.
Depois que os EUA se retiraram do Afeganistão em 2021, após 20 anos de guerra, enormes quantidades de equipamentos militares altamente sofisticados foram deixados para trás e caíram nas mãos do Taleban.
Stock, o secretário-geral da organização internacional de policiamento, disse que o conflito na Ucrânia também levou a um aumento no roubo de fertilizantes em grande escala e um aumento nos agroquímicos falsificados. Houve também um grande aumento no roubo de combustível. "Esses produtos se tornaram mais valiosos", disse ele.
Questionado sobre suposta violação de sanções e lavagem de dinheiro por oligarcas russos diante de restrições internacionais, ele disse que a Interpol não está investigando isso nem supostos crimes de guerra, pois a constituição da Interpol proíbe a organização de se envolver em atividades políticas e deve permanecer neutra.
No entanto, ele acrescentou que a organização recebeu um pedido da Ucrânia para ajudar na identificação dos mortos no conflito. "Não estamos na Ucrânia, mas podemos ajudar nisso. É um trabalho clássico de identificação", disse Stock.
Outros pedidos seriam considerados "caso a caso", levando em consideração a "estrita neutralidade" da Interpol. "Nossos canais de comunicação permanecem abertos aos países membros para troca de informações sobre crimes de guerra. Mas não estamos investigando crimes de guerra, porque a Interpol não tem poderes de investigação". (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)