Variedades

Arnaldo Antunes e Marisa Monte lembram os Tribalistas

Passa o tempo, as estações, passam andorinhas e verões, como diz uma canção dos Tribalistas, e certos artistas brasileiros continuam balançando o chão da praça com capacidade de surpreender, mesmo dando o que o público espera deles, como é comum em shows para multidões. Foi assim com os shows de Ney Matogrosso, Elba Ramalho (com participação de Mariana Aydar) e Arnaldo Antunes com a convidada Marisa Monte, na tarde e na noite de domingo, 14, na quarta edição do festival Natura Musical em Belo Horizonte. Mais de 50 mil pessoas lotaram a Praça da Estação e a grande expectativa em torno do encontro de Arnaldo com Marisa foi bem-sucedida.

É claro que os fãs queriam mais, mas a aparição de Marisa, que raramente participa de festivais, provocou euforia e comoção, especialmente nas três canções dos Tribalistas incluídas no roteiro: Passe em Casa, Velha Infância e Já Sei Namorar. Eles ainda cantaram juntos Sem Você e Ainda Bem. Quatro dessas composições tem a assinatura dos dois, que começou no início dos anos 1990.
Arnaldo e banda apresentaram uma versão reduzida do show Disco (incluindo canções de “Iê Iê Iê” e dos tempos de Titãs) e ainda contaram com breve participação de BNegão, convidado da Nação Zumbi em outro palco do festival, na praça JK. Além da Nação, Karina Buhr, Siba e Felipe Cordeiro tocaram no mesmo palco para mais de 5 mil pessoas.

Em clima de confraternização familiar, o festival começou cedo na Praça da Liberdade, onde, entre outros, se apresentaram a cantora Érika Machado, com seu novo trabalho, dedicado ao público infantil, e o grupo Giramundo, misturando música, teatro e marionetes numa divertida encenação do clássico Pedro e o Lobo, de Sergei Prokofiev.

A tarde na Praça da Estação começou com o encontro da baiana Marcela Bellas com a paraense Juliana Sinimbu. Em seguida, tocou o jovem quinteto paulistano 5 a Seco, que já tem público cativo na capital mineira. Ambos saíram bastante satisfeitos com o resultado dos shows. Única atração de Minas, Fernanda Takai também fez uma versão reduzida de Na Medida do Impossível, sem os belos cenários. No final, recebeu Samuel Rosa, que tocou guitarra e cantou com ela quatro canções, entre elas Pra Curar Essa Dor, do álbum mais recente da cantora, e Resposta, antiga do Skank. Uma das boas surpresas foi quando relembraram hits de seus respectivos grupos, Sobre o Tempo (do Pato Fu) e Vou Deixar, do Skank.
Elba Ramalho botou fogo na mistura, com ótimo repertório de baião, frevo, toada em que homenageou Dominguinhos, com radiante participação de Mariana Aydar, além de cantar os clássicos que gravou de Luiz Gonzaga, Lenine, Zé Ramalho (sua versão para Chão de Giz é sempre uma comoção), entre outros. Fazendo a ponte com o showzaço que viria em seguida, ela cantou Homem com H (Antonio Barros/Cecéu), hit do repertório de Ney Matogrosso. Seria curioso se ambos a interpretassem juntos. Elba e Ney são dois cantores que contam com a generosa ação do tempo a seu favor. Continuam cantando com a mesma voz e a mesma vitalidade do início de suas carreiras.

Elba segue em turnê com outro show, Cordas, Gonzaga e Afins, em que se apresenta acompanhada pelo grupo instrumental pernambucano Sá Grama e convidados. Ney, que não faz por menos, trouxe o bem-sucedido show Atento aos Sinais, com os impressionantes cenários, projeções e arquitetura de luz que deveria servir de padrão para qualquer iluminador, além da excelente banda. Se o público espera (e tem) os habituais rebolados, a troca de roupa em cena e outros jogos de sedução, Ney também não faz concessões sobre o que canta. E se entrega em sensacionais canções de Itamar Assumpção (Noite Torta e Isso Não Vai Ficar Assim), Vitor Ramil (A Ilusão da Casa), arrastando a multidão com a força de uma correnteza. O receptivo público mineiro corresponde com declarações de amor e tesão.

O repórter viajou a convite da produção do festival.

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