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Arquivo de Jacob do Bandolim está acessível na internet

Em 1967, em entrevista para TV, Jacob do Bandolim falou sobre um tema que lhe tirava do sério: a modernização do choro. “Uma das coisas que temo é que hoje os chamados modernos se metam em choro. Já em 1953, no jornal O Tempo, dei entrevista afirmando que, no máximo em dez anos, portanto em 1963, o choro já estaria morto”, disse o bandolinista. “Falou em choro, mexeu no meu calo. Esse negócio vai ser uma briga, estou avisando. Não vão fazer com o choro o que fizeram com o samba, porque vou para praça pública”, completou.

Nascido em 1918, Jacob Pick Bittencourt criou uma linguagem, seguida até hoje, para o instrumento que lhe rendeu o eterno apelido artístico, mas caiu na armadilha de se fechar contra a evolução das experimentações, criticadas e classificadas por ele como “inflexões jazzísticas”.

Se neste aspecto o chorão se mostrava extremamente conservador, por outro revelou uma faceta que lhe colocava muito à frente de seu tempo: a de colecionador. Ainda em 1955, quando a tecnologia era precária, Jacob comprou dois gravadores e passou a documentar a produção musical nacional.

Nesta quarta-feira, 13, dia em que se completam 45 anos da morte do compositor e instrumentista carioca, o Instituto Jacob do Bandolim dá uma notícia animadora. Os 122 rolos magnéticos do acervo do bandolinista, que resultaram em 5.366 arquivos de áudio, tiveram sua digitalização concluída e serão disponibilizados para o público.

Todo o material será entregue no próximo mês ao MIS do Rio, que, desde 1974, abriga a Coleção Jacob do Bandolim, com cerca de 6 mil partituras deixadas pelo músico. A solenidade de entrega, em 6 de setembro, na Sala Baden Powell, no Rio, contará também com show comemorativo de 70 anos do bandolinista Déo Rian, o discípulo mais próximo de Jacob e atual presidente do instituto que leva o nome de seu mentor.

O acervo, que o instrumentista armazenava em sua casa, em Jacarepaguá, é composto por raridades da música brasileira. Além de registros do próprio Jacob tocando, há entrevistas feitas por ele com personalidades como Elizeth Cardoso e Orlando Silva, programas históricos nas rádios Nacional, Tupi e Mayrink Veiga, apresentações de orquestras regidas por Radamés Gnattali, Guerra Peixe e Lindolfo Gaya, festivais de música e programas com O Pessoal da Velha Guarda, com Pixinguinha, Benedito Lacerda e Raul de Barros, entre outros, sob comando de Almirante.

Obcecado pela preservação da memória brasileira, Jacob não gravava eventos ligados apenas ao choro e à música instrumental. Prova disso é que o acervo traz gravações curiosas, como a transmissão da Rádio Nacional feita pelo locutor Jorge Cury da final da Copa do Mundo de 1958, entre Brasil e Suécia.

“As pessoas conhecem o Jacob instrumentista e o Jacob compositor. Agora vão ter a dimensão dessa sua terceira faceta, a de preservador, que talvez tenha a mesma importância que as duas anteriores para a música brasileira”, diz Sergio Prata, coordenador-geral do projeto de digitalização do acervo e vice-presidente do Instituto Jacob do Bandolim.

O instituto foi criado em 2002, após campanha do produtor e compositor Hermínio Bello de Carvalho para que o arquivo de Jacob, que começava a se deteriorar, fosse preservado. Em 2004, foi firmado termo de colaboração entre o IJB e o MIS, e começou a digitalização “bruta” do material, sem catalogação, em trabalho que levou dois anos.

No fim de 2012, o projeto foi contemplado pelo programa de incentivo Petrobrás Cultural, tornando possível que a digitalização fosse finalizada, com a identificação completa de informações como evento, data e músicos participantes. O processo, realizado do início de 2013 até agora, resultou em um catálogo com cerca de 300 páginas. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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