Estadão

Arrefecimento da economia pode ajudar a conter avanço global da inflação

O arrefecimento esperado para a economia chinesa pode ajudar a conter o avanço da pressões inflacionárias em nível global, avalia Logan Wright, diretor de Pesquisa de Mercados da China no Rhodium Group, uma empresa de economia e pesquisa política com sede em Washington, nos Estados Unidos. "Globalmente, isso pode sugerir a necessidade de menos ajustes ou de ajustes mais baixos nas taxas de juros para combater a atual dinâmica inflacionária do que os que estão sendo levado em consideração", afirma.

O aumento de preços de alimentos e commodities, na esteira da invasão russa à Ucrânia, agravou o aumento inflacionário causado pela escassez de mão de obra, gargalos nas cadeias de suprimentos e um excesso de consumo de bens relacionado à pandemia de covid-19. Nas últimas semanas, no entanto, o relaxamento das restrições de mobilidade em Xangai e em outras cidades da China ajudou a afrouxar alguns desses gargalos nas cadeias.

Ao mesmo tempo, os sinais de demanda ocidental por bens de consumo estão diminuindo à medida que a inflação consome a renda das famílias e os consumidores transferem os gastos para serviços – varejistas americanas recentemente alertaram para o possível impacto financeiro devido ao excesso de estoque de produtos.

Isso poderia produzir outro impulso desinflacionário, segundo analistas: diante da queda na demanda interna e externa, os fabricantes de produtos chineses podem reduzir preços, especialmente se também estiverem super abastecidos e se o efeito sobre as margens for amortecido por uma moeda chinesa mais fraca.

A inflação de preços ao produtor chinês desacelerou em maio pelo sétimo mês consecutivo, para 6,4% na comparação interanual, enquanto os estoques de produtos acabados nas empresas chinesas em abril aumentaram 20% em relação ao ano anterior, o ritmo anual mais rápido em uma década.

Ainda assim, a influência da China na inflação global não deve ser toda em uma única direção. A política de covid zero adotada por Pequim ainda pode gerar novos bloqueios, o que acarretaria em novos gargalos nas cadeias de suprimentos globais. "Se esses problemas pioraram, a China certamente exportará inflação", diz o economista Kennet Rogoff, da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos.

As commodities também são fonte de incerteza. Em busca de acelerar o crescimento, as autoridades chinesas planejam mais uma "blitz" de infraestrutura, que pode aumentar os preços globais de minério de ferro, cobre e outros insumos utilizados na construção. Se a recuperação chinesa superar as expectativas, isso também pode aumentar a demanda por petróleo e carvão.

Muitos economistas, contudo, duvidam que a China se recupere da mesma maneira que fez após enfrentar a primeira grande onda de covid-19 no país, em 2020, dada a queda na demanda estrangeira por bens, bem como o nervosismo dos consumidores e das empresas com os bloqueios gerados pela política de covid zero.

<i>Com Dow Jones Newswires</i>

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