Variedades

Arte de Henrique Oswald é resgatada em mostra

Em 1966, o escritor Jorge Amado (1912-2001) lamentava-se da falta de um “baiano loiro e tímido, de riso discreto e alma boníssima” pelas ruas, galerias e pelo pátio da Escola de Belas Artes de Salvador. “Henrique Oswald foi um grande da pintura brasileira: no silêncio, na modéstia e na consciência de seu ofício criou um mundo de beleza imortal”, definiu ainda o autor em texto que acompanhou, naquele ano, a primeira exposição póstuma em homenagem ao artista, morto em dezembro de 1965, aos 47 anos, em decorrência de um câncer. “Ele foi meu professor de gravura e de ética do trabalho”, afirma, agora, Emanoel Araujo, curador da exposição com 68 obras de Henrique Oswald a ser inaugurada nesta quinta-feira, 5, às 19 horas, no Museu Afro Brasil.

“Sempre tive essa dívida com ele”, explica o baiano Emanoel Araujo, também diretor da instituição que abriga a mostra, digna de destaque. Criador nos campos da pintura, do desenho e da gravura, o carioca Henrique Oswald, filho do pintor e gravador Carlos Oswald (1888-1971) e neto do compositor e pianista Henrique Oswald (1852-1931), viveu em Salvador, onde se fixou em 1959. Além de lecionar na Escola de Belas Artes da capital baiana, criou, na cidade, alguns de seus mais belos trabalhos pictóricos, como os que representam, quase em abstração, casarios e igrejas da Bahia. “É uma exposição para suscitar o nome dele novamente, suscitar sua obra”, diz o curador, sobre o resgate.

Desde o ano passado, todas as peças presentes na mostra – do conjunto, exceto duas pinturas não pertencem à família de Henrique Oswald – passaram por cuidadoso restauro. “Estavam muito deterioradas, quase se perdiam”, conta o diretor do Afro Brasil. “Homem de muita técnica”, o artista, que participou de quatro edições da Bienal de São Paulo e expôs no Rio, Roma e Salvador, produziu pouco em sua trajetória, como afirma Emanoel – e, mesmo assim, o paradeiro de grande parte de suas criações é desconhecido.

“Quando as obras caem na mão de colecionadores, desaparecem”, considera o curador. “Muitas coisas dele têm de ser vasculhadas, pois ele carece de uma exposição ainda maior”, conclui, citando que, entre os acervos públicos, ele próprio doou para a Pinacoteca do Estado, quando a dirigiu, as matrizes de álbum de Oswald criado em 1966. O Museu de Arte Moderna de São Paulo também possui uma série de desenhos do carioca, premiados em edição do Panorama da Arte Brasileira da instituição, assim como o Museu Nacional de Belas Artes do Rio.

Expressividade

Henrique Oswald – Um Gravador, Um Desenhista, Um Pintor: Uma Obra em Transmutação começa seu percurso com uma série de desenhos da década de 1960 que, hoje, são considerados as últimas criações do carioca. Esses trabalhos de grande formato, realizados com traços fortes, foram livremente intitulados pela equipe do museu como o conjunto do “Homem Absurdo”. “Existe uma dramaticidade nos escuros, uma questão espacial importante”, destaca Emanoel Araujo sobre essas obras que, entre a abstração e a figuração, já indicam o caráter denso do trabalho do artista.

A mostra, portanto, apresenta a produção de Henrique Oswald de trás para frente, ou seja, desde suas criações de 1965 até as da década de 1950 e 40, períodos nos quais pintava motivos religiosos – impregnado por sua experiência na Itália, conhecida graças ao Prêmio de Viagem ao Exterior concedido pelo Salão Nacional de Belas Artes do Rio – e também se interessava por representar velhos e mendigos em pinturas e gravuras. Retratos fotográficos reproduzidos no espaço expositivo contribuem a falar do homenageado e de sua família de consideráveis criadores artísticos.

“Sua gravura é muito complexa”, diz o curador. “Algo de que gostei de seus ensinamentos foram os cinzas de suas peças, meios tons dessa cor feitas com a madeira”, destaca Emanoel, mostrando que os veios explorados nas xilogravuras expostas refletem-se nas pinturas que podem ser vistas na parede oposta da sala expositiva. “Sua obra é muito concisa, é possível reconhecer nelas todas as características de sua pesquisa”.

Vale ressaltar ainda o esmero das peças gráficas, feitas em água-tinta, água-forte e buril e chamar a atenção para a composição das cores e texturas das pinturas. Os escuros das telas, explica o diretor do museu, não advêm do uso direto de tinta preta por exemplo, mas de camadas pictóricas criadas através de técnica própria.

Depois da abertura da exposição de Henrique Oswald, o Afro Brasil vai inaugurar neste sábado, 7, às 13 horas, duas outras mostras – Luz e Sombra, com fotografias de Christian Cravo, e Roberto Hötte – Um Escultor de Art Brut. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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