O presidente da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8 de Janeiro, Arthur Maia (União Brasi-BA), blindou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, o general Mauro Lourena Cid e o ex-ministro da Defesa Paulo Sérgio Nogueira ao montar a pauta da próxima sessão deliberativa marcada para quinta-feira, 24.
Para não retirar completamente de votação as pautas apresentadas pela maioria governista, Maia pautou apenas os requerimentos da base do governo que pedem a quebra de sigilo bancário e telemático da deputada federal Carla Zambelli (PL-SP).
Maia montou sozinho a pauta da próxima reunião deliberativa da CPMI diante da crise entre o governo e a oposição deflagrada na última da terça-feira, 22. Os dois lados se recusaram a firmar acordo sobre quais requerimentos deveriam ir a votação e a sessão acabou cancelada. De um lado, a base do governo cobrava a aprovação de quebras de sigilo de aliados de Bolsonaro e do próprio ex-presidente. No outro flanco, a oposição acusava os governistas de obstruírem as suas pautas e cobravam a votação de temas que desgastem o Palácio do Planalto.
A relatora Eliziane havia preparado uma lista de quatro requerimentos prioritários para serem aprovados. Os pedidos incluíam a quebra do sigilo telefônico do presidente do PL, Valdemar Costa Neto, e do ex-ministro da Defesa Paulo Sérgio Nogueira; a produção de relatórios de inteligência financeira (RIFs) de Zambelli e do general Mauro Lourena Cid, assim como a quebra do sigilo bancário do militar e do sigilo telefônico da parlamentar.
Dentre as demandas, a única atendida foi a direcionada a Zambelli. Os demais aliados de Bolsonaro foram poupados, mesmo diante de revelações da própria CPMI que apontavam a participação deles em atos de contestação das instituições democráticas.
Maia também incluiu na pauta da próxima sessão deliberativa a quebra de sigilo bancário, fiscal, telefônico e telemático do hacker Walter Delgatti Netto, que acusou Bolsonaro de oferecer um indulto caso ele fosse preso numa suposta operação a pedido do PL para demonstrar que as urnas eletrônicas poderiam ser fraudadas. O pedido contra o hacker foi protocolado pela oposição.
Dentre as outras pautas listadas por Maia estão a quebra do sigilo do sargento Luis Marcos dos Reis. O <b>Estadão</b> revelou que o militar movimentou R$ 3,3 milhões nos anos em que trabalhou como auxiliar de Bolsonaro. Os valores foram repassados ao ex-ajudante de ordens Mauro Cid, que teve um novo requerimento de convocação pautado pelo presidente da CPMI.
Na manhã desta quarta-feira, 23, Maia se reuniu com o comandante do Exército, Tomás Paiva, e o ministro da Defesa, José Múcio. Quando questionado, o parlamentar negou que os militares tenham pedido para retirar de pauta medidas direcionadas a oficiais de alta patente, como Mauro Lourena Cid e Paulo Sério Nogueira. "Em relação aos requerimentos, isso não muda absolutamente nada", garantiu Maia.
<b>Cerco contra Bolsonaro</b>
A base governista na CPMI passou a pressionar Maia para pautar as quebras de sigilo de Bolsonaro e Michelle, mas o presidente do colegiado tem se esquivado sob o argumento de que não há fatos que justifiquem esse tipo de medida. Ele ainda alega que se o grupo deseja investigar o caso do desvio de joias deveria aprovar a criação de uma nova CPI.
Os governistas querem aproveitar o cerco a Bolsonaro promovido pela Polícia Federal (PF) para obter informações sobre a sua movimentação financeira nos últimos anos. A convocação do ex-presidente é defendida por uma ala do governo, mas ainda encontra resistência interna.
Na outra ponta do embate, os oposicionistas têm acusado a relatora de obstruir as suas demandas. Outra queixa recorrente é de que o colegiado se desviou do objetivo inicial ao se debruçar sobre o esquema de desvios de joias por Bolsonaro e seus aliados. Parte das revelações sobre este caso surgiram como desdobramento de quebras de sigilo aprovadas pela comissão.