O violonista, crítico musical e escritor Arthur Nestrovski não é mais diretor artístico da Fundação Osesp. O cargo, no que a Osesp está chamando de novo modelo de governança, deixa de existir e suas atribuições serão divididas entre o diretor musical Thierry Fischer e a equipe do diretor executivo Marcelo Lopes.
Nestrovski atribuiu a decisão de deixar o posto à importância de reconhecer "a hora em que cabe à instituição renovar as reservas de energia para tocar um projeto como este". Do ponto de vista pessoal, ele afirma, é "a hora de voltar a projetos próprios e a uma vida com outras demandas, agora sem a infinita carga de dedicação à Osesp".
A justificativa está em uma carta que o ex-diretor leu no começo da tarde de hoje, 27, para os músicos da Osesp. No encontro, também foi explicada a nova divisão na gestão artística a partir da temporada 2024 – a agenda de 2023, ainda preparada sob a direção de Nestrovski, está pronta e já foi anunciada no final de setembro.
"Caberá a Fischer articular e implementar a visão de longo prazo para todos os corpos artísticos da fundação, que inclui também o Coro da Osesp, Quarteto Osesp, Quinteto Osesp e Coros Juvenil e Infantil. As demais atividades da Direção Artística serão distribuídas entre Fischer e sua equipe e Marcelo Lopes e o time da Direção Executiva, com intensa colaboração em frentes como os Programas Educacionais e projetos de difusão pelo Estado de São Paulo", diz o comunicado da orquestra.
A Fundação Osesp afirma ainda que "sob a gestão de Fischer, a construção da programação e escolha dos convidados levará em conta sua visão sobre repertórios, estilos e competências". Segundo Fischer, "o próximo passo é um maior refinamento na execução e desenvolvimento dos músicos e do grupo como um todo, com foco na busca permanente da sua identidade. Uma visão integrada de programação e interpretação permitirá atingirmos resultados à altura da qualidade de nossos músicos e da instituição". O contrato inicial do maestro se encerra no final de 2024.
<b>A gestão de Nestrovski na Osesp</b>
A chegada de Nestrovski à Osesp marcou uma mudança na forma de gestão artística da orquestra. Ele assumiu o posto em 2010, no lugar do maestro John Neschling, demitido em meio a desavenças com os músicos e conselheiros da fundação e o governo do estado de São Paulo. Naquele momento, havia a impressão de que centralizar em uma só pessoa a função de regente e diretor artístico levava a uma concentração de poder a ser evitada. Nestrovski foi, assim, o primeiro diretor artístico na história do grupo a não ser também o seu maestro principal – o posto foi ocupado primeiramente por Yan Pascal Tortelier e, em seguida, por Marin Alsop.
A gestão de Nestrovski foi marcada por mudanças no conceito da programação, que passou a seguir um tema geral e a incorporar também, em suas próprias agendas, todos os grupos da Fundação Osesp: além da orquestra, o Quarteto Osesp e o Coro da Osesp. Nestrovski criou também posições anuais como as de artistas e compositores residentes. Um dos principais projetos realizados durante a sua gestão foi a gravação da integral das sinfonias de Heitor Villa-Lobos, com o maestro Isaac Karabtchevsky.