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ARTIGO – E daí que tenho vantagem? O mal do oportunismo hoje

Viver tornou uma arte. Nossa capacidade de socialização transformou-se numa de jogo de xadrez onde cada jogada, onde cada passo pode ser uma vantagem ou desvantagem. À medida que avançamos em nossos círculos de convivência somos levamos a decisões que não somente mostrarão quem somos, nossas histórias, nossa essência, mas também nossos valores e virtudes.

Neste contexto, oportunismo se apresenta como prerrogativa de sobrevivência. Caraterizado por aproveitar da vulnerabilidade alheia, possui várias facetas até conseguir o que ambiciona, não importando quem, quando e onde. E Não se engane. Estar vulnerável não é exclusivamente sinônimo de fraqueza física, mas ser susceptível a qualquer investida levada pela vaidade de quem acolhe. Quanto mais achamos que somos inatingíveis, mais exposto estaremos.

Vale lembrar que, como dizem muitos pensadores, ninguém nasce sendo o que é, mas em vivência com a sociedade, opta em ser algo, quer seja por vantagem, afeição ou conforto. Logo com o oportunista não seria diferente.

Parafraseando Balzac Honoré, escritor francês do século XIX, que imbuído pela natureza humana, batizou a este sujeito como uma pessoa que se apodera do outro por meios ardilosos e fraudulentos. O vulgo escroque.

Sob a bandeira do aproveitamento ingênuo de uma boa situação, justifica ser a pessoa certa, no lugar certo e na hora certo onde terceiros não o entendem. Aqui não existe pudor e a tudo se justificativa: do aumento de preços devido à crise, a aproximação de pessoas por sua utilidade física, de imagem ou ainda material; não importa, valendo apenas a conveniência. Semelhantemente ao filme ‘Os oportunistas’ (The Place, 2017), dirigido por Paolo Genovese, a narrativa conta com personagens que aceitam fazer algo fora dos preceitos normativos de convívio em troca de seus desejos realizados, optando por saciar suas necessidades, não importando se prejudicará a outros.
Ora, mas o que seria o exercício do preceito normativos? Longe dos discursos tecnicamente filosóficos ou das confissões positivistas dos coachs, é fazer ao outro o que você faria a você mesmo; ou melhor, não fazer ao outro o que você não faria a você.

Por esses e outros motivos o oportunismo é um problema da moral que revelam a ausência de empatia, de pensar no próximo quanto pessoa. Por sua natureza perspicaz, o oportunista inflama o ego de outro para alimentar irreverentemente o seu próprio. Confundido com a oportunidade, que se caracterizada por uma circunstância natural, o oportunismo se desvincula da ética pelo bem próprio, articulando-se artificialmente. Afinal a farinha é pouca, meu pirão primeiro, como diria os antigos.

Sim, viver não é fácil e cada geração sendo fruto de seu próprio tempo é desafiado para o hoje, em alcançar um agir servindo de referência universal de maneira equilibrada, sã, justa e que busque o bem comum, sem esquecer que cada qual escreve sua própria história.

Oportunismo. Um mal a ser vencido em prol da sociedade e do indivíduo. É a liberdade de dizer não ao benefício exacerbado.

Denis Batista de Souza é doutor em Ciências da Educação, especialista em Docência do Ensino superior – concentração formação docente e licenciado em filosofia plena e bacharel em teologia. Dentre outras designações na SEDUC SP, hoje é um dos Professores Coordenadores do Núcleo Pedagógico na DER – Guarulhos Sul. Ele é o autor do livro A odisseia do anônimo: fatos e histórias que não contaríamos a ninguém, pela kindle/Amazon.

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