“A contemporaneidade hoje está em fazer algo mais estranho”, diz Paulo Monteiro – e, para ele, os últimos revolucionários da arte foram, na verdade, os artistas da década de 70. “Estou nesse momento mais conectado com a expressão, com a poética, e não me ater a uma técnica me favorece”, continua o artista, que pinta, mas que também esculpe. Em seu ateliê na Barra Funda, em São Paulo, as paredes estão tomadas por pequenas – algumas pequeníssimas – telas e esculturas de ferro, bronze, tecido e papel. Há, ainda, grandes pinturas e grandes esculturas, e percebemos que a relação de Monteiro com a escala é livre. Seus trabalhos tomam o local como uma instalação e é dessa maneira que suas mais novas obras poderão ser vistas a partir deste sábado, 3, na mostra O Interior da Distância, na Galeria Mendes Wood DM.
De fato, uma estranheza vai unindo as criações de Paulo Monteiro, o que as torna sempre atraentes. O diálogo entre o bidimensional e o tridimensional já ocorre há tempos na produção do artista, basta lembrar que ele participou da Casa 7 nos anos 1980, o ateliê que é referência quando se fala de pintura e Geração 80 em São Paulo. Mas, como o paulistano destaca, a escultura é uma constância em sua obra desde 1986 e, com a gravura e o desenho, ele também já costurou relações com o escultórico. “De 2009 para cá, comecei a tratar a pintura como objeto”, explica – e é a cor que ganha, agora, uma potência diferente em seu trabalho.
Na ponta de uma pequena peça de metal pulsa, por exemplo, um tom de laranja fluorescente e vê-se que outra escultura foi inteiramente pintada de rosa. Elas pontuam o espaço como diminutas linhas nas paredes e um traçado espesso, feito com muita tinta, vai se destacando nos campos coloridos das telas. Alguns espectadores podem perceber as pinturas como paisagens – uma sequência de representações da linha do horizonte -; outros, como abstrações. Uma aproximação mais íntima com as obras faz ainda serem descobertas intervenções pictóricas de Monteiro nas bordas dos quadros, o que é fascinante. “A cor é uma coisa emocional, de afinidade, instintiva.” Ele conta que não consegue usar o amarelo nem o verde e, sendo assim, destacam-se em suas criações o vermelho, o azul, o rosa e o laranja.
As operações de Paulo Monteiro têm tido uma repercussão crescente, inclusive, no exterior. O MoMA de Nova York adquiriu, em 2013, oito de suas obras e, no ano passado, ele expôs em poderosas galerias estrangeiras como a Lisson e a David Zwirner. “Lá fora, eles ficam desconfiados de um artista que faz muitas coisas, mas está sendo superboa a recepção”, considera. Além de inaugurar neste sábado a exposição de seus mais recentes trabalhos na Galeria Mendes Wood DM, ele lança o livro Paulo Monteiro: O Interior da Distância, da Editora Cobogó.
A publicação enfoca a produção do artista desde 2009. Nela, o texto de Kiki Mazzucchelli, O Menino Dança, toma como mote uma fotografia de 1986 na qual Monteiro está na Casa 7 rodeado por criações escultóricas. “Eram arranjos compostos de fragmentos de madeira, borracha, tubulações ou vergalhões, que pareciam encontrar seu equilíbrio em pontos de apoio transitórios, sugerindo a iminência do movimento ou do colapso”, destaca a crítica. Já Tiago Mesquita analisa de uma forma geral o trabalho sem “tons heroicos nem arroubos românticos” do paulistano. “Embora trate de desencontros, da dissolução das coisas, sua obra não é trágica. Quando lida com esses aspectos em que as coisas não saem como o esperado, o trabalho pode ganhar um tom cômico ou melancólico, como os desenganos do cotidiano costumam ser.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.