O novo ministro da Cultura, Marcelo Calero, será empossado na terça-feira, 24, quando pretende iniciar o que chama de “tempo de diálogo e de muito trabalho”, como escreveu em sua página no Facebook. “É preciso compreender a cultura dentro de uma visão democrática e inclusiva, valorizando a diversidade de nossas manifestações, especialmente as que surgem em nossas periferias.”
Ele terá de enfrentar também protestos, com vários prédios governamentais, inclusive a Funarte do Rio, ocupados por representantes da classe artística para pressionar o governo, empenhado em reduzir o número de ministérios. O presidente da Funarte, Francisco Bosco, aliás, recusou-se a conversar com Calero quando este ainda era secretário. O Caderno 2 ouviu representantes da classe artística sobre a volta do MinC.
José Padilha, cineasta
A cultura, no mundo inteiro, é apoiada pelo Estado. Na Inglaterra, na França, na Alemanha, etc. O cinema americano, por exemplo, recebe infinitamente mais incentivos fiscais do que o cinema brasileiro. De modo que a ideia de que existe no Brasil uma “farra” de artistas feita com incentivos fiscais, e que isso é uma distorção em relação ao resto do mundo, é uma ideia que não corresponde aos fatos. Isto posto, o que me parece realmente importante é saber qual será a política cultural do pais, quanto do orçamento da União será alocado para a sua consecução, com base em que critérios e mecanismos será feita a alocação dos recursos disponíveis, e quem irá fiscalizar os produtores culturais que receberem estes recursos. A cultura precisa da organização mais inteligente, enxuta e eficiente possível para formular esta política e levá-la a cabo. O nome desta organização não me parece ser o mais importante. Sou a favor de chamá-la de Ministério da Cultura se isto acalmar o ânimo dos formadores de opinião do país. Mas não sem antes lembrar a eles que quem elegeu o Temer foram os eleitores da Dilma. Eu votei nulo.
Eduardo de Souza. Barata, produtor teatral
Foi uma grande vitória para a sociedade, para os profissionais de cultura e para o Brasil. O MinC é o espaço correto para as discussão e formulação de políticas públicas para o setor cultural. É o ministério que possui especialistas nas áreas de patrimônio público, em memória e em todos segmento das artes. Além de entender a preocupação em relação a um distribuição mais equilibrada de verbas para todas as regiões do País. A performance do Calero como gestor da pasta de cultura na cidade do Rio, foi de excelência. Além de estar sempre disponível para o diálogo. Já houve o compromisso de cumprir com o passivo do ministério e de liberar 230 milhões para isso, em até 4 meses. Também foi anunciado que o MinC terá 50% de aumento no orçamento de 2017.
Paula Lavigne, produtora
A recriação do Ministério da Cultura é uma vitória, como Caetano disse: “O MinC é uma conquista do Estado brasileiro, não é de nenhum governo”. E é isso, o MinC não pertence a nenhum governo para ser “tirado” e “colocado” a qualquer momento. Foi forte a pressão, conseguimos a volta do Ministério da Cultura, agora precisamos mostrar o nosso valor. Precisamos reconstruir a imagem da cultura. Não somos um ônus, um custo desnecessário para o Estado. Somos geradores de empregos diretos e indiretos, pagamos impostos, participamos para a riqueza do país, não só da “imaterial”, da “alma”, mas principalmente da material. Somos um setor importante da economia que também está sofrendo com a crise, que também enfrenta o desemprego. A indústria criativa não pode ser tratada como coisa de “vagabundos que mamam nas tetas do governo”. Há pesquisas que provam: empregamos mais que o setor automobilístico. Muita gente pensa que o Ministério da Cultura se resume em Lei Rouanet, e não é isso. A Lei Rouanet também precisa de reformas, é inegável, mas assim como muitos setores no sistema brasileiro. Ninguém pode viver sem arte. Não somos “vagabundos”, somos artistas, produtores e trabalhadores dignos, como qualquer outra profissão.