Morreu na noite deste domingo, 29, aos 80 anos, Danilo Santos de Miranda, diretor do Sesc São Paulo e especialista em ação cultural. A informação foi divulgada pela instituição e nas redes sociais de Miranda. A página destacou os 55 anos de dedicação ao Sesc paulista, onde esteve à frente da diretoria regional desde 1984. Nesta posição, Danilo foi um dos mais importantes gestores culturais da história do Brasil.
"Neste momento de grande consternação para todos nós, em nome da Presidência, do Conselho Regional e do corpo de funcionários do Sesc SP, prestamos nossa solidariedade e sinceros sentimentos à família e aos amigos de Danilo, e nossa homenagem ao querido diretor e companheiro", declarou a instituição. A causa da morte não foi informada.
O presidente Lula lamentou a notícia, definindo a morte de Danilo como uma "grande perda". Já a ministra da Cultura, Margareth Menezes, escreveu que Miranda "reinventou a forma de fazer cultura no Brasil com o seu trabalho no Sesc São Paulo, se tornando imenso para todos nós, pelo seu amor dedicado à cultura e à arte".
"Um dos maiores incentivadores da cultura fez do Sesc São Paulo, uma referência cultural. Um homem bom que já sinto falta. Descanse agora", escreveu Serginho Groissman.
"Estamos em luto pela partida do professor Danilo Miranda, um absoluto ativista, realmente absoluto, da cultura em nosso país. O Brasil está vazio com a não presença desse brasileiro, cuja vida trouxe sua imensa luz à nossa criatividade. Que tristeza", lamentou Fernanda Montenegro, que definiu seu sentimento como "orfandade".
Caetano Veloso escreveu que se tratava de um "dia triste para a cultura brasileira". "Nos deixou ontem Danilo Santos de Miranda. À frente do Sesc, se tornou o principal gestor cultural do país. Nossos sentimentos aos familiares e admiradores", finalizou.
"O teatro brasileiro se despede hoje de um de seus maiores defensores", publicou o ator e diretor Kiko Mascarenhas em seu Instagram. "O homem que fez do SESC SP um grande polo de cultura, prestando um serviço inestimável às artes e à população".
"Um homem apaixonado pelas artes, por São Paulo e pelo Brasil. Meu coração está apertado, uma tristeza por vê-lo partir e perder seus olhos, seus ouvidos, sua inteligência, seu amor pelo teatro, pela dança, pela música, pelo sonho, pela emoção que apenas a arte é capaz de trazer de volta para nós", assinou Daniela Mercury.
"Me despeço do maior ministro da cultura que o Brasil nunca teve. A arte e a cultura transbordaram e continuarão transbordando por meio da beleza, generosidade, ética, sabedoria, entrega e amor de Danilo Miranda", disse Eduardo Saron, presidente da Fundação Itaú, que congrega o Itaú Cultural, Itaú Social e Itaú Educação e Trabalho.
"O conselho e as equipes do Museu da Língua Portuguesa e do Museu do Futebol estendem um abraço para a família e os amigos de Danilo, e para toda a equipe do Sesc São Paulo. Seu legado permanecerá vivo através de todos nós", falaram as autoridades dos Museus da Língua Portuguesa e Museu do Futebol.
A Câmara Brasileira do Livro (CBL) declarou que "lamenta profundamente a morte do sociólogo e filósofo Danilo Santos de Miranda, que comandou o Sesc de São Paulo por quatro décadas, transformando a entidade ligada ao setor do comércio em uma das maiores instituições culturais do País".
<b>História</b>
Natural de Campos dos Goytacazes, no Rio, Miranda estudou no seminário dos jesuítas, em Friburgo, na adolescência. Posteriormente, estudaria filosofia e sociologia. "Do ponto de vista do acúmulo da experiência, me considero privilegiado. Tive uma infância muito ativa e feliz, uma formação razoavelmente sólida, e uma vida profissional também bastante variada. Minha vida foi sempre divertida", disse ele à Revista E, do Sesc, em abril, por ocasião dos seus 80 anos.
Falando sobre a sua trajetória, comentou também sua perspectiva de futuro. "Eu, sobretudo, acredito no futuro – pessoal e coletivo – e me coloco como alguém que, dentro do meu pedaço, batalho por um mundo melhor. Não pretendo fazer nada muito extraordinário do ponto de vista político, cultural ou social, mas, a partir das minhas experiências, espero colaborar para que a gente melhore as coisas para todo mundo", disse à publicação.
Ao <b>Estadão</b>, comentou, em maio, sobre os planos de inauguração de novas unidades. "Vamos chegar a um público cada vez maior. Chegar a mais cidades e mais bairros onde não estamos ainda. E com uma programação viva", afirmou na oportunidade.
Questionado na revista do Sesc sobre o País, destacou o papel da cultura. "O Brasil tem condições de melhorar as coisas para o futuro, mas tudo isso envolve política, sim, envolve economia, sim, mas envolve, sobretudo, a cultura e o convencimento a respeito de quem nós somos. E que papel temos nós – os brasileiros comuns – nisso? Temos que colaborar na nossa atividade, no nosso dia a dia. Eu, pessoalmente, tenho o privilégio e a responsabilidade de atuar no nível pessoal e de colaborar no nível institucional para, quem sabe, alcançarmos um futuro menos desigual."
<b>Importância</b>
Miranda defendia que a educação e a cultura – com predileção especial pelo teatro – eram o cerne do desenvolvimento humano.
"Cultura, do jeito que eu entendo, é educação – educação permanente. Eu defendo uma sociedade em que o componente educativo e cultural seja colocado no centro e não o componente econômico, político ou social isolado", declarou, certa vez, à revista Cult.
Figura central da cultura de São Paulo e do Brasil, Danilo revolucionou o Sesc que, sob seu comando, cresceu e se tornou referência. Foi ele quem inaugurou a maior parte das unidades da instituição do estado, com propostas de fomento à cultura que se tornaram modelo para todo o País.
Miranda também foi membro do conselho de instituições como a Fundação Bienal de São Paulo, o Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (MASP), o Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM), o Itaú Cultural, a Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin e a SP Escola de Teatro. Foi presidente do Conselho Diretor do Fórum Cultural Mundial (2004). Sua atuação se estendia também ao âmbito internacional.
Mas seu trabalho era, sobretudo, sobre o Brasil. Reverenciado por nomes de Zé Celso a Fernanda Montenegro, Danilo comandou o Sesc por 40 anos e influenciou políticas do Ministério da Cultura, apesar de nunca ter assumido o cargo oficialmente.
Ao completar 80 anos, Miranda sentia que a hora de "entregar o bastão" estava chegando, mas tinha apego pela instituição que formou. "Fico até o momento que eu puder e tiver condições, e faço tudo como se estivesse começando hoje, mas sei que posso sair amanhã", declarou à Veja neste ano. Seu legado fica, palpável, em cada uma das unidades que inaugurou e nas milhares de pessoas que inspirou.
<b>Velório</b>
Miranda foi velado no teatro do Sesc Pompeia, na Zona Oeste da capital paulista, na manhã desta segunda-feira, 30. O velório, que iniciou às 8h, foi aberto às 10h para o público geral. Ele foi cremado no Cemitério Horto da Paz.