Opinião

As águas de janeiro e as situações que se repetem

Mais uma vez janeiro chegou e trouxe junto os temporais de verão, comuns neste período. Na noite de quinta-feira, não só Guarulhos mas toda a Grande São Paulo, além de municípios do interior e litoral, sofreram com a força das águas que caíram sem piedade. Danos a perder de vista. Gente perdendo seus bens, adquiridos com muito custo. Famílias perdendo entes queridos, mortos em deslizamentos de terras ou, em alguns casos, levadas pela força das enxurradas.


 


Em regiões de grande densidade habitacional, como Guarulhos e São Paulo, os problemas são tão intensos como o tamanho dessas cidades. O rio Tietê, assoreado pelo lixo depositado pela própria população, sem receber os devidos cuidados do Estado, vaza para todos os lados. A Marginal Tietê, uma das principais vias da capital, para totalmente. Prejuízos materiais e morais que se espalham por esses municípios.


 


Em Guarulhos, o quadro é parecido. Gente desabrigada, ruas cheias, vias bloqueadas, deslizamentos, sujeira… O tempo passa, os políticos falam, mas pouca coisa muda. Basta verificar que os locais mais atingidos pelas cheias de agora são extamente os mesmos de tempos atrás. Nesse intervalo de tempo, entre um verão e outro, nada mais do que promessas nunca cumpridas. São situações que se repetem sistematicamente. Até o período de férias do prefeito Sebastião Almeida (PT) coincide com o período de caos por aqui. Ano passado, quando a cidade estava sob as águas de janeiro, ele também se encontrava ausente.


 


Moradores e comerciantes da região do Lago da Vila Galvão – ou Lago dos Patos, se assim preferirem – já têm até uma espécie de placar que conta os dias em que as ruas próximas se tornam navegáveis. O que mudou desde o verão passado? Praticamente nada. Apenas promessas de que um grande plano de drenagem está em curso, que verbas federais foram solicitadas, dependendo do calendário eleitoral, lógico.


 


Pelos lados da Vila Any, depois de tudo que aquela população viveu em 2010, quando as casas ficaram mais de um mês embaixo dágua, absolutamente nada foi feito. O Tietê voltou a subir e os moradores agora têm que se virar, a espera de que o Governo do Estado inicie o tão esperado e anunciado desassoreamento do rio Tietê. Aliás, nenhum outro curso que desagua no rio maior recebeu a limpeza prometida. Baquirivu, um do que se encontram em pior situação e que fez muito estrago ano passado, segue sujo.  Mais uma demonstração de que tem muito a ser feito ainda. 


 


Como é possível perceber, de todos os lados o cidadão parece completamente desprotegido, apenas contando com a ajuda dos céus. Mas nem sempre é possível ir contra a própria natureza. Verão é tempo de chuvas. Não há como mudar isso. Mas há sim como transformar a forma de agir em relação aos detentores do poder, justamente aqueles que podem adotar medidas para melhorar a vida das pessoas. As chuvas virão. Só que precisa dar condições de convivermos pacificamente com ela. Caso contrário, não resta outra coisa a não ser esperar a próxima e, depois, contar e recontar os estragos.  

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