Depois que depuseram o presidente João Goulart, em 1964, os militares instalaram uma ditadura no Brasil que perseguia qualquer pessoa identificada como esquerdista. As denúncias contra desafetos, acusados gratuitamente de serem “perigosos comunistas”, começaram a chegar aos quartéis, alimentando uma caça às bruxas aos opositores do regime militar que iria se estender pelas duas décadas seguintes.
Um dia, no Rio de Janeiro, o cronista Sérgio Porto leu em algum jornal: uma senhora, cujo filho havia tirado nota zero em Matemática, inconformada, denunciou às autoridades o professor da sua criança como “agente comunista”. Depois, o próprio Sérgio enumeraria nas suas crônicas quatro outros fatos semelhantes àquele. E se convenceu: um festival de besteira se alastrava pelo Brasil.
Primeiro: O governo militar interveio em todos os sindicatos de trabalhadores, mas mandou para Genebra uma delegação que iria fazer parte da Comissão de Liberdade Sindical, no Conselho de Administração da Organização Internacional do Trabalho – OIT.
Segundo: O time de futebol da Alemanha Oriental, comunista, veio ao Brasil disputar alguns jogos. O Itamarati distribuiu nota oficial anunciando que o time só jogaria aqui “se as partidas não tivessem cunho político”.
Terceiro: Em Mariana, Minas Gerais, um delegado de Polícia quis evitar desrespeitos à moralidade pública: proibiu os casais de se sentarem juntos nos bancos da única praça existente na cidade.
Quarto: Outro delegado mineiro espalhou espiões pelas arquibancadas dos estádios de Belo Horizonte. A função deles: prender torcedores que gritassem mais de três palavrões numa partida.
Pronto. Estava iniciada a série de livros que Sérgio iria lançar com grande êxito. Assinou-os com seu pseudônimo, Stanislaw Ponte Preta. Surgia a FEBEAPÁ – Festival de Besteiras Que Assolam o País.
Sérgio morreu de enfarte, em 1968, aos 45 anos de idade. Hoje, seria tranquilizador poder acreditar que bobagens como as que ele publicava desapareceram totalmente. Infelizmente, as matérias divulgadas por jornais, revistas e sites, nos privam deste conforto.
Como aquela sobre o novo secretário de Educação, do Rio de Janeiro, o engenheiro e administrador de empresas Wagner Victer, “um forte aliado político da governadora Rosinha Garotinho e de seu marido, o ex-governador Anthony Garotinho” segundo a imprensa carioca.
No primeiro dia da investidura dele no cargo, uma das apresentadoras do telejornal da TV Globo RJTV quis entrevistá-lo. Localizou-o por telefone, e, com o secretário no ar, perguntou: – O senhor está me ouvindo. Wagner respondeu-lhe: “Ouvo sim!”. O brutal erro de linguagem, escandaloso num secretário de Educação, logo, provocou comentários irônicos que se alastraram pelas redes sociais da internet.
No dia seguinte, o secretário apresentou estas explicações, através do jornal O Globo: “Estou levando (a gafe) no bom humor. Meu outro sobrenome é Granja. E dali sempre sai um ovo. Mas se alguém duvida que eu sou bom em Português é só pegar meus boletins na escola onde estudei. É na Escola Municipal Rodrigo Otávio”.