Mundo das Palavras

As tentações de um jornalista


Quem tem o saboroso hábito de parar diante das bancas de jornal, para apreciar as novidades lançadas no mercado editorial, sabe que o Jornalismo Especializado do nosso país está vivendo um momento maravilhoso, fruto, certamente, da preservação das liberdades de pesquisa e de opinião conquistadas pelos brasileiros, com o fim do ciclo de governos militares pós-1964.


 


Hoje, são inúmeras as publicações voltadas para as diversas áreas da cultura e do conhecimento cujos exemplares ficam exibidos nestas bancas. Há revistas de textos claros, facilmente compreensíveis, amparados pelo arsenal de recursos do designer gráfico, como diagramações ousadas, cores e ilustrações atraentes, dedicadas à Psicologia, à Literatura, à Filosofia, à História etc.


 


Não causa mais estranheza ao público atingido pelas mídias impressas a figura do jornalista interdisciplinar, aquele que atua nas interfaces do Jornalismo com outras áreas. Ruy Castro é um exemplo de sucesso numa destas interfaces. Seus textos, produzidos na vizinhança do Jornalismo com a História, conquistaram muitos leitores. Por isto, vale a pena pensar na configuração do espaço profissional ocupado por um profissional como ele.


 


São duas as maiores tentações que um jornalista pesquisador da História, como Ruy Castro, tem de enfrentar diante da possibilidade de ocupar um espaço num órgão impresso de grande circulação. A primeira é a de se tornar um professor de História convencional. É claro que ele não pode ceder a esta tentação porque o seu trabalho não é parte de um ensino planejado, embora o Jornalismo deva também ser didático. Seu espaço de atuação, na verdade, é o do ensino extracurricular, aquele que qualquer pessoa pode obter, apenas lendo um jornal, um livro, assistindo uma peça de teatro, ou simplesmente, conversando com um amigo.


 


A segundo tentação que ele tem de suportar é a de se tornar um repórter convencional. Aquele repórter que prepara suas matérias movido somente pela relação de assuntos que já estão sendo abordados pelos veículos de comunicação, com a preocupação única de encontrar um ângulo novo. Ele não pode ceder a esta tentação porque os assuntos que pesquisa em geral não estão, necessariamente, nas páginas dos jornais.


 


Um jornalista pesquisador da História que cedesse a estas tentações perderia uma chance única de criar um novo tipo de comunicação social dentro de uma situação profissional raríssima.

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