A ata do Comitê de Política Monetária (Copom) divulgada nesta terça-feira, 22, esclareceu que a decisão de elevar a taxa básica de juros para 11,75% ao ano se deu por causa da volatilidade e incerteza da conjuntura atual, particularmente no cenário internacional. "O Comitê optou por uma trajetória de juros mais tempestiva do que a embutida em seus cenários", trouxe o documento.
O BC explicou que para determinar o ritmo apropriado de elevação dos juros analisou suas projeções de inflação utilizando simulações com trajetórias de política monetária com diferentes taxas terminais, ritmos de ajuste e duração do aperto monetário. A preferência por uma elevação mais forte, de acordo com o Copom, expressa cautela em relação às probabilidades atribuídas a seus cenários e à mensuração dos efeitos de segunda ordem. O documento também enfatiza a importância da autoridade monetária com o comprometimento com a convergência da inflação e com as expectativas para as metas no horizonte relevante.
"Concluiu-se que um novo ajuste de 1,00 ponto porcentual, seguido de ajuste adicional de mesma magnitude, é a estratégia mais adequada para atingir aperto monetário suficiente e garantir a convergência da inflação ao longo do horizonte relevante, assim como a ancoragem das expectativas de prazos mais longos", detalharam os diretores. O Comitê reconheceu, no entanto, que o cenário para a convergência da inflação para suas metas está "desafiador" e reforçou que estará pronto para ajustar o tamanho do ciclo de aperto monetário, caso o cenário evolua desfavoravelmente.
A ata do Copom também reafirma que a alta da Selic anunciada na semana passada é uma decisão que "reflete a incerteza ao redor de seus cenários e um balanço de riscos com variância ainda maior do que a usual para a inflação prospectiva". Além disso, repetiu que a decisão é compatível com a convergência da inflação para as metas "ao longo do horizonte relevante, que inclui o anos-calendário de 2022 e, principalmente, o de 2023".
No documento, o BC pontuou que o ajuste da Selic "também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego" – duas metas acessórias que a autarquia passou a perseguir após a lei de autonomia formal do órgão. Essas ideias expressas na ata já constaram no comunicado da semana passada.
Com as ameaças fiscais sempre à espreita, o comitê também manteve a assimetria altista no balanço de riscos, apesar de um resultado mais positivo das contas públicas no período recente. "A incerteza em relação ao arcabouço fiscal mantém elevado o risco de desancoragem das expectativas de inflação, mas esse risco está sendo parcialmente incorporado nas expectativas de inflação e preços de ativos", repetiu o documento.
Mesmo assim, o BC manteve seu balanço de riscos com fatores em ambas as direções. O Copom voltou a citar que uma possível reversão, ainda que parcial, do aumento nos preços das commodities internacionais em moeda local produziria trajetória de inflação menor que o projetado. Por outro lado, políticas fiscais que impliquem impulso adicional da demanda agregada ou piorem a trajetória fiscal futura podem impactar negativamente preços de ativos importantes e elevar os prêmios de risco do País.
<b>Próxima reunião</b>
O Copom reafirmou hoje, por meio da ata, a intenção de manter o ritmo alta da Selic (a taxa básica de juros) na próxima reunião, em maio. Na semana passada, o Copom elevou a Selic em 1,00 ponto porcentual, de 10,75% para 11,75% ao ano. Após tirar o pé do acelerador – depois de três movimentos para cima de 1,50 p.p -, o Copom pregou cautela para os próximos passos da política monetária. O BC pontuou que a atuação do colegiado visa a combater os impactos secundários do atual choque de oferta em diversas commodities, que se manifestam de maneira defasada na inflação.
"As atuais projeções indicam que o ciclo de juros nos cenários avaliados é suficiente para a convergência da inflação para patamar em torno da meta ao longo do horizonte relevante. O Copom avalia que o momento exige serenidade para avaliação da extensão e duração dos atuais choques. Caso esses se provem mais persistentes ou maiores que o antecipado, o Comitê estará pronto para ajustar o tamanho do ciclo de aperto monetário", repetiu o BC hoje.
Essas ideias expressas na ata já constaram no comunicado da semana passada. Mais uma vez, o Copom afirmou que irá perseverar em sua estratégia até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas. O BC ainda enfatizou que poderão ser feitos ajustes nos próximos passos para convergência da inflação às metas e a depender da evolução do balanço de riscos, da atividade econômica e das projeções e expectativas de inflação.
"O Copom considera que, diante de suas projeções e do risco de desancoragem das expectativas para prazos mais longos, é apropriado que o ciclo de aperto monetário continue avançando significativamente em território ainda mais contracionista", repetiu a ata.