A ata do último encontro do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC), divulgada nesta terça-feira, 14, detalha as razões que levaram o colegiado a se dividir em relação ao ritmo de corte da Selic, que foi reduzida de 10,75% ao ano para 10,50% ao ano na última semana, abandonando a guidance de março que indicava uma redução de 0,50 ponto porcentual (p.p).
Segundo a ata, os diretores que votaram por 0,25 ponto de queda avaliaram que a sinalização era condicional e, mais importante do que um custo reputacional, era o compromisso com o combate à inflação. Já os que optaram pelo corte de 0,50 p.p. argumentam que seguir a guidance e reforçar o compromisso com o combate à inflação não pode ser confundido com leniência.
Mesmo com as divergências sobre o tamanho do corte, todos os membros do Copom concordam que o juro terminal deve consolidar desinflação e ancoragem de expectativas.
O grupo que votou pelo declínio de 0,25 p.p. inclui o presidente do BC, Roberto Campos Neto, e os diretores Carolina de Assis Barros, Diogo Guillen, Otávio Damaso e Renato Dias de Brito Gomes, que já estavam na autoridade monetária antes da gestão Lula. Ao justificar a posição, esse grupo considerou que o cenário para a redução sinalizada anteriormente não se confirmou em função da desancoragem adicional das expectativas, da elevação das projeções de inflação, do cenário internacional mais adverso e da atividade econômica mais dinâmica do que esperado.
Para eles, o foward guidance indicado em março "sempre foi condicional" e houve mudanças no cenário esperado. "Tais membros ressaltaram que muito mais importante do que o eventual custo reputacional de não seguir um guidance, mesmo que condicional, é o risco de perda de credibilidade sobre o compromisso com o combate à inflação e com a ancoragem das expectativas", diz a ata. A escolha da redução de 0,25 p.p., portanto, foi vista como mais apropriada para o atingimento da inflação na meta no horizonte relevante.
Já os diretores indicados na nova gestão Lula – Ailton de Aquino, Gabriel Galípolo, Paulo Picchetti e Rodrigo Teixeira – optaram por um corte de 0,50 ponto, seguindo a sinalização anterior. A ata pontua que esse grupo também compartilha a percepção de aumento das incertezas e do firme compromisso com o objetivo fundamental de atingimento da meta e de reancoragem das expectativas. Esse grupo propôs um debate sobre o custo de oportunidade de não seguir a sinalização, ainda que com mudança de cenário. A ata relembra que esse tipo de discussão já ocorreu em outras reuniões e avaliava se o cenário prospectivo divergia tão significativamente do esperado a ponto de valer o custo reputacional de não seguir o guidance, com custos de reduzir o poder das comunicações formais do Copom.
A posição desse grupo era de seguir com o corte de 0,50 ponto porcentual já indicado, e reafirmar o firme compromisso com a meta e com a requerida taxa de juros terminal, para garantir a convergência da inflação para a meta. Segundo a ata, essa ala ressaltou "que a extração da tendência subjacente da dinâmica inflacionária em um ambiente incerto é difícil, mas não deveria, de forma alguma, ser confundida com leniência com relação aos indicadores divulgados no período, em particular as expectativas de inflação", diz o documento.
A avaliação deste grupo ainda inclui uma observação de que as projeções de inflação eram mais afetadas pela determinação da taxa de juros terminal, por isso o corte de 0,50 p.p. ainda manteria a política monetária suficientemente contracionista. "Por fim, tal grupo enfatizou a necessidade de flexibilidade das decisões nas reuniões a partir de junho, o que permitiria, à luz de novo conjunto de informação, calibrar a trajetória do instrumento de política monetária da forma apropriada", diz o texto.
Apesar das divergências em relação ao tamanho do corte, a ata explicita que todos os membros do colegiado "concordaram que a adoção de uma política monetária mais contracionista, mais cautelosa e sem indicações futuras sobre os próximos movimentos mostrava-se mais apropriada diante do cenário global incerto e do cenário doméstico marcado por resiliência na atividade e expectativas desancoradas".
A avaliação do Copom é de que a política monetária deve se manter contracionista e a taxa de juros terminal será aquela que consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas de inflação em torno das metas. "Por fim, todos corroboraram o entendimento de que a extensão e a adequação de ajustes futuros na taxa de juros serão ditadas pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta", diz a ata.