Ao mesmo que retiraram a avaliação de que não há espaço para a flexibilização da política monetária, os integrantes do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central demonstraram “satisfação” com o progresso nas perspectivas de desinflação da economia brasileira em “horizontes relevantes”. É o que mostra a ata divulgada nesta terça-feira, 6, pelo Banco Central.
Ao mesmo tempo, eles demonstraram preocupação com as expectativas de inflação para 2017 apuradas pela pesquisa Focus do BC e a projeção de inflação para o mesmo ano sob as hipóteses do cenário de mercado, ambas situadas acima da meta de 4,5%.
Na ata, os membros do Copom informam que discutiram ainda as implicações de explicitar condicionalidades econômicas sobre a evolução da política monetária, em contraste com a comunicação vigente. “cujo caráter poderia ser entendido como temporal”, diz o BC, sem dar explicações.
Segundo o Copom, para dadas condições monetárias, condicionar a evolução futura da política monetária a fatores relevantes para a inflação transmite melhor a racionalidade econômica que guia as decisões do Comitê. “Isso contribui para aumentar a transparência e melhorar a comunicação do Copom”, avalia a ata.
Espaço para cortes
Na prática, a instituição deixou as portas abertas para uma redução da Selic (a taxa básica de juros da economia), hoje em 14,25% ao ano, embora este movimento ainda dependa de certas condições.
Para iniciar o ciclo de corte da Selic, no entanto, o Copom especificou claramente, assim como havia feito no comunicado que acompanhou o último encontro, as condições necessárias: que a alta dos preços dos alimentos na inflação seja limitada; que os produtos do IPCA sensíveis aos juros e à atividade indiquem deflação em velocidade adequada; e que ocorra redução da incerteza sobre os ajustes na economia, em especial o fiscal.
Especificamente sobre a atividade, o Copom passou a enxergar “evidências adicionais” de estabilização. O Banco Central cita, inclusive, o fato de o investimento ter registrado o primeiro aumento após nove trimestres seguidos de queda. Na quarta-feira passada, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informou que a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) subiu 0,4% no segundo trimestre deste ano, ante o primeiro trimestre. “Há sinais de uma possível retomada gradual da atividade econômica”, defende o Banco Central.
Ao mesmo tempo, a instituição lembra que a economia segue operando com nível elevado de ociosidade – o que, em tese, neste processo de retomada da economia, significaria menor pressão de alta nos preços.
No caso da inflação dos alimentos, os membros do comitê citaram que a elevação de preços persiste, mas no atacado já há algum sinal de arrefecimento. “Com a transmissão dos preços do atacado para o varejo, é possível que ocorra uma reversão desses preços ao consumidor”, registrou a ata.
O Copom lembrou ainda, como havia feito no documento anterior, que os ajustes na economia, se aprovados e implementados de forma mais rápida, vão contribuir para o controle da inflação.
No cenário externo, o Banco Central deixou de citar a decisão do Reino Unido de sair da União Europeia (“Brexit”) e passou a dar ênfase á possibilidade de alta de juros nos EUA.
Para o BC, manifestações recentes de membros do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc), do Federal Reserve (Fed), sinalizam a possibilidade de alta de juros nos EUA no curto prazo, o que gera “incerteza”.
Considerando os fatores internos e externos, o Copom informou, na ata, que tanto o cenário de mercado quanto o de referência (que utiliza projeções de câmbio e juros estáveis) indicam inflação em torno de 7,3% em 2016. Para o ano que vem, a desinflação até a meta de 4,5% ocorre no cenário de referência, mas no cenário de mercado ainda atinge cerca de 5,1%.