Os aparelhos se calam primeiro. Televisores ficam sem imagem, os rádios, sem som. Os celulares silenciam. E os computadores param. Às vezes, logo depois, é possível ouvir o ronco grave das turbinas dos aviões. Mas, na maioria das ocasiões, nem isso. O apagão dura pouco.
O momento seguinte é o da chegada dos mísseis que vêm para cegar os olhos eletrônicos da defesa antiaérea: estações de radar, pontos de sensores digitais a laser, detectores de sinais infravermelhos.
Foi assim na noite fria de quarta-feira na Ucrânia sob o ataque das poderosas forças da Rússia. Em pouco menos de um dia de operações a aviação de Moscou neutralizou de 14 a 17 instalações em vários pontos do território ucraniano.
BOMBARDEIOS. Cada estação de radar emite um sinal próprio, tem uma assinatura eletrônica única. A bordo do míssil destinado a atingi-la há uma central digital programada para procurar essa identidade – que, naturalmente, estará protegida por recursos tecnológicos. Também estará guarnecida no terreno por mísseis e canhões antiaéreos.
Os caças usados nas missões terão sido provavelmente modelos supersônicos Sukhoi-24 e Sukhoi-27, configurados para atingir alvos no solo com mísseis especializados, antirradar. O arsenal russo tem vários modelos, com alcances entre 30 km e 130 km, levando cargas explosivas de 39 kg a 96 kg, conduzidos por um núcleo de busca "inteligente" de tecnologia secreta. De quebra, os jatos são armados com bombas guiadas. A intenção é atingir toda a instalação.
Na Ucrânia, a rede de radares era relativamente moderna. Foi comprada nos anos 2000, com unidades fixas e móveis, sobre carretas e contêineres. Modernizada e expandida entre 2011 e 2017, deveria ter passado por um novo ciclo de atualização a partir de 2019. Isso não foi feito. A empresa estatal local envolvida, Artem, de Kharkiv, não conseguiu um acordo com o fornecedor original do sistema – a Rússia. Encontrar os radares e sensores com certeza é uma tarefa mais fácil quando se tem acesso a informações sensíveis. Para o adido aeronáutico da embaixada no Brasil de um dos países da Europa, "atacar com informações privilegiadas de construtor fez da neutralização das defesas aéreas ucranianas uma tarefa com a dificuldade de pescar em um barril". As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>