Documentos do Pentágono mostram que as guerras travadas por meio de ataques aéreos com uso de drones e bombas de precisão dos Estados Unidos no Oriente Médio foram marcadas por uma "inteligência profundamente falha" e resultaram em milhares de mortes de civis, entre eles muitas crianças, relatou o jornal <i>The New York Times</i> no sábado, 18.
O jornal teve acesso exclusivo a mais de 5.400 páginas de documentos confidenciais de um arquivo oculto do Pentágono que desmentem a versão do governo americano de uma guerra travada com bombas de precisão. Além de avaliar os documentos, o <i>New York Times</i> visitou quase 100 locais de bombardeios e entrevistou dezenas de residentes sobreviventes e ex-funcionários americanos no Iraque, Síria e Afeganistão. Os documentos e a investigação mostram que, desde 2014, em mais de 50 mil ataques, a guerra aérea americana tem causado vítimas desnecessárias.
Segundo contagem dos militares, 1.417 civis morreram em ataques aéreos na campanha contra o Estado Islâmico no Iraque e na Síria; desde 2018 no Afeganistão, as operações aéreas dos EUA mataram pelo menos 188 civis. Mas o jornal descobriu que o número de civis mortos pode ter sido até duas vezes maior. As discrepâncias surgiram caso após caso – nenhum mais flagrante do que um atentado a bomba em 2016 no vilarejo sírio de Tokhar.
As forças de Operações Especiais americanas atingiram o que acreditavam ser três "áreas de preparação" do EI, confiantes de que estavam matando dezenas de combatentes do grupo. Uma investigação militar concluiu que de sete a 24 civis "misturados aos combatentes" podem ter morrido. Mas o <i>New York Times</i> descobriu que os edifícios atingidos eram casas onde famílias buscaram refúgio. Mais de 120 civis foram mortos. Imagens ruins de vigilância contribuíram muitas vezes para erros mortais, segundo o relatório.
<b>ERROS</b>
No mês passado, os EUA tiveram que admitir seu erro após alegar que um veículo destruído por um drone em Cabul em agosto continha bombas. As vítimas do ataque eram 10 membros de uma família. Muitos civis que sobreviveram a ofensivas ficaram com deficiências que exigiam tratamentos caros, mas menos de 10 pagamentos de indenização foram registrados. "As promessas de transparência e prestação regular de contas não se cumpriram", diz o jornal. "Nenhum dos registros avaliados inclui registro de infração ou ações disciplinares". Os registros apontam para uma aceitação institucional das vítimas civis. Na lógica dos militares, um ataque era justificável desde que o risco esperado para os civis tivesse sido pesado em relação ao ganho militar e aprovado na cadeia de comando.
<b>GUERRA AÉREA</b>
A nova forma de guerra dos Estados Unidos tomou forma após o aumento das forças dos EUA no Afeganistão, em 2009. No final de 2014, o presidente Barack Obama declarou que a "guerra em solo" estava essencialmente concluída, mudando a missão militar para "apoio aéreo" e aconselhamento para as forças afegãs que lutavam contra o Taleban. Quase ao mesmo tempo, ele autorizou uma campanha de ataques aéreos contra alvos do EI e em apoio às forças aliadas no Iraque e na Síria.
Em um ritmo cada vez mais acelerado nos cinco anos seguintes, e conforme o governo Obama deu lugar ao de Donald Trump, as forças americanas executaram mais de 50.000 ataques aéreos. Quando as guerras se intensificaram, a autoridade para aprovar ataques foi empurrada para baixo na cadeia de comando, mesmo com a esmagadora maioria dos ataques realizados no calor da guerra e não planejados com muita antecedência – o que favoreceu a morte de civis. As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>