O HMU (Hospital Municipal de Urgências) de Guarulhos se tornou nos últimos anos o maior símbolo de descaso com pacientes que buscam um atendimento médico digno na segunda maior cidade do Estado de São Paulo. Depois de quase oito anos de gestão na Secretaria Municipal de Saúde, o vice-prefeito Carlos Derman (PT) chegou a dizer no início de outubro que “fez muito pelo hospital”. No entanto, não é o que pensam e sentem na pele os pacientes, funcionários e até médicos.
O GuarulhosWeb teve acesso nesta terça-feira a uma carta escrita por um médico, que se demitiu do hospital em meados deste ano, por não concordar com as práticas administrativa e caos instalado no HMU, devido à incompetência e “facilidades” oferecidas a profissionais que aceitam as condições propostas pela municipalidade. O caso teria sido encaminhado ao Ministério Público Estadual.
Em paralelo, populares relatam as mais diversas reclamações em relação ao HMU, que passam por falta de higiene, demora nos atendimentos, funcionários desrespeitosos, além de, superlotação e até falta de água.
Uma situação vivenciada pelo GuarulhosWeb, que foi até a unidade em outubro, se repetiu nesta terça-feira, por volta das 10h. A reportagem, sem se identificar, questionou um funcionário sobre o tempo de espera no pronto atendimento. Ele confirmou que havia apenas um médico no atendimento e os pacientes estariam aguardando por cerca de uma hora somente para passar na triagem.
Pelos corredores, muitas pessoas aguardavam por atendimento. Na recepção, pacientes esperavam em pé. “Cheguei às 9h30 e estou passando muito mal, não adianta brigar. Infelizmente é esperar e torcer para encontrar um médico que vá pelo menos se interessar pelo seu problema e fazer um atendimento descente”, desabafou a recepcionista, Thais Gomes, que não conseguiu aguardar o atendimento e preferiu procurar outro hospital.
Pessoas que trabalharam no HMU em diversos cargos denunciam que diretores da unidade estariam cooperando com irregularidades nos registros de plantões extras. O valor gasto com a prática chegaria a aproximadamente R$ 6 milhões por ano. “Enquanto isso, o hospital não tem nem maca”, diz o médico.
Segundo GuarulhosWeb apurou, os plantões são oferecidos a funcionários que participam de cirurgias como fraturas e urgências, além de setores essenciais de atendimento aos pacientes. No entanto, o beneficio estaria sendo aplicado a funcionários de diversas áreas sem o devido controle e, em alguns casos, sem necessidade. Na carta do médico que se demitiu, ele conta que muitos estariam recebendo sem trabalhar, a partir de um acordo firmado com um grupo pelo departamento de recursos humanos do hospital.
Ao se desligar, o profissional relatou que o hospital não possui condições de trabalho, além de não oferecer ambiente necessário para o atendimento dos pacientes, com alto número de infecções hospitalares, falta de medicamentos, ausência de macas e infra-estrutura mínima necessária.
O GuarulhosWeb encaminhou uma série de questionamentos para a Secretaria Municipal de Saúde, que não respondeu até a publicação desta reportagem.