No dia em que se completam 10 anos de sua morte, nesta terça, 31, o artista Athos Bulcão é relembrado em São Paulo com a abertura para convidados de uma exposição realizada no Centro Cultural Banco do Brasil, que celebra o centenário de seu nascimento, comemorado no último dia 2 de julho. A abertura da mostra para o público geral é na quarta-feira, 1º.
Já exibida em Brasília e Belo Horizonte, 100 Anos de Athos Bulcão, que segue para o Rio de Janeiro depois da passagem por São Paulo, tem como premissa ir além dos famosos trabalhos em azulejaria portuguesa, para mostrar a grande diversidade de sua obra, que engloba também pinturas, ilustrações, capas de discos, livros e revistas, além de cenários e figurinos para teatro. Toda a produção de um artista que largou a medicina para seguir a sua verdadeira vocação e que, com o uso da geometria, deu a cara de Brasília, complementando os trabalhos de Oscar Niemeyer, Lúcio Costa e Roberto Burle Marx. Dos quatro, inclusive, Bulcão foi o único que permaneceu na cidade até o fim da vida.
Para reverenciar a obra do Professor, como o carioca Athos Bulcão gostava de ser chamado, os curadores Marília Panitz e André Severo decidiram não seguir uma ordem cronológica, e sim as ideias do próprio artista. Para isso, tomaram como base uma entrevista realizada em 1998. “Foi como uma partitura”, brinca Panitz, que chegou a conviver com Bulcão. “Ele experimentou muita coisa, por isso quisemos construir um percurso que mostrasse como essas obras se relacionam, e também a riqueza e a coerência de seu trabalho”, explica.
O percurso começa já no térreo do CCBB, em São Paulo, com um cubo de 9 m², cujas faces reproduzem famosas obras de azulejaria de Athos Bulcão em prédios públicos por todo o País. Do 1º ao 4º piso do prédio, diversos núcleos revelam a obra de Athos até os seus últimos desenhos, quando já sofria da doença de Parkinson, em que retoma a temática do carnaval, bem retratada em sua pintura figurativa. “As pinturas do carnaval começam no momento em que ele abandona a medicina para se dedicar às artes, com uma paleta de cores renascentista em um fundo liso, quase metafísico”, explica Marília Panitz. No mesmo setor, os curadores agrupam também pinturas sacras, que seguem as mesmas técnicas, e vestes litúrgicas – Bulcão era católico praticante.
Ainda na mesma sala, outros trabalhos começam a mostrar o interesse do artista pelo geométrico, que teve maior destaque na azulejaria. “Ele nunca deixou de pintar e desenhar”, diz ainda André Severo. “Você consegue encontrar laços entre as produções.”
A exposição conta ainda com uma série de pinturas de máscaras, produzidas em técnica mista, que é sucesso entre colecionadores, de acordo com os curadores. Outro setor mostra também trabalhos de fotomontagens com viés bastante surrealista. Pela primeira vez, as matrizes das obras são exibidas para o público, junto com os resultados finais.
Humano
Outro destaque da exposição são painéis do acervo da Rede Sarah de Hospitais para o Aparelho Locomotor, como as lúdicas Mafuá e Lula, que mostram o lado humanista de Athos Bulcão. No hospital, o artista, ao lado do arquiteto e amigo João Filgueiras Lima, o Lelé, trabalhou as cores para facilitar o acesso de pessoas não alfabetizadas. “Eles trabalharam com um pensamento inclusivo, para oferecer um melhor convívio, mesmo no ambiente hospitalar”, analisa Valéria Cabral, secretária executiva da Fundação Athos Bulcão.
No último andar do CCBB, o núcleo Rastros mostra um dos motivos que levaram o artista a ser chamado de Professor – algo que vai além do cargo de docente que exerceu na Universidade de Brasília. Obras de Bulcão se misturam com as de jovens artistas e de admiradores que nunca conheceram o mestre. “Ele tinha uma relação muito próxima com artistas mais jovens”, acrescenta Panitz. “E tinha a generosidade de trocar trabalhos com eles.”
100 ANOS DE ATHOS BULCÃO
Centro Cultural Banco do
Brasil. R. Álvares Penteado, 112. Tel. 3113-3651. 4ª a 2ª, 9 às 21h. Gratuito. Até 15/10.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.