Um jogador do time de basquete sub-13 do Palmeiras sofreu injúria racial durante uma partida no Clube Pinheiros, na zona oeste de São Paulo, no domingo, em jogo válido pelo Campeonato Metropolitano da modalidade. A comissão técnica palmeirense decidiu tirar a equipe de quadra, e a partida contra os donos da casa acabou suspensa por "situação grave ocorrida".
A identidade da criança não foi revelada para proteger a integridade do adolescente, que tem apenas 12 anos e deixou a quadra chorando após o episódio. Luiz Bejczy, diretor de basquete do Palmeiras, afirma que o departamento jurídico alviverde irá notificar o Pinheiros, ressaltando ser dever do clube apurar internamente os fatos para identificar os autores da ofensa. De acordo com o dirigente, esta não é a primeira vez que jogadores palmeirenses são alvos de comentários racistas em jogos oficiais, o que serviu de motivo para o treinador Gustavo Rocha retirar o time de quadra. Segundo ele, a comissão técnica por pouco não foi agredida por torcedores rivais.
O Palmeiras entrou em contato com a Federação Paulista de Basquete (FPB) para pedir providências em relação ao caso. Segundo o presidente Enyo Correia, a entidade "repudia qualquer ato de racismo e discriminação em qualquer instância". Entretanto, o órgão se mantém ponderado em relação ao caso até que o crime, de fato, seja provado. "Depois de um boletim e instaurado o inquérito, a federação também pode entrar com uma punição, seja para o clube ou para o torcedor. Mas, somos contra qualquer situação de racismo."
Procurada pelo Estadão, a mãe do menino confirmou que procurou a polícia e registrou um boletim de ocorrência. Ela conta que os insultos começaram após o adolescente se chocar com um competidor rival no último quarto. O choque foi forte e o jogador do Pinheiros precisou ser atendido em quadra. Foi neste momento que, na versão da mãe, uma mulher começou a chamar o jovem atleta palmeirense de "animal", sendo esta a ofensa mais forte que ouviu, e a xingá-lo com outros palavrões, insinuando que o garoto teria entrado na jogada com força excessiva para agredir o rival.
"Quem estava mais próximo ouviu mais coisas, mas neste momento ninguém fala. Meu filho olhou assustado e começou a chorar. Depois que o menino levantou, o árbitro deu falta antidesportiva e o expulsou. Neste momento, o meu filho já estava chorando e descontrolado", relata.
A mãe do menino conta ainda que outros torcedores do Pinheiros que estavam presentes corroboraram a versão de que o seu filho teria sido agressivo com o colega. Porém, ela ressalta que as próprias crianças são amigas de longa data, e que tudo não passou de um lance normal. Luiz Bejczy também confirma a versão. "Todos eles têm 1,90m, mas são todos crianças. Temos inclusive um vídeo do lance. Foi normal."
A mãe do palmeirense revela ainda que um homem se dirigiu a ela para oferecer desculpas pela mulher que havia chamado o seu filho de "animal". Ela também relata que se dispôs a ouvir a mulher, mas a mesma deixou o local após a chegada da polícia, acionada ao local por outras pessoas que estavam presentes. Um outro homem, que se identificou como diretor do Pinheiros, sugeriu que o assunto fosse resolvido internamente, sem a necessidade do envolvimento da Justiça.
O Palmeiras ressalta que está dando todo o suporte necessário ao atleta e à sua família, incluindo atendimento psicológico. O adolescente, segundo a mãe, ainda está bastante abalado com o ocorrido, chegando até mesmo a não ir para a escola na segunda-feira. Procurado, o Clube Pinheiros não se manifestou sobre o assunto.