Uma audiência sigilosa reuniu a presidente da Petrobras, Graça Foster, integrantes da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e sócios da auditoria PricewaterhouseCoopers (PwC) no fim da tarde de 7 de novembro passado. O encontro de 1 hora e 12 minutos ocorreu no 32º andar da sede do órgão regulador do mercado de capitais, onde trabalham diretores e o presidente da CVM, Leonardo Pereira.
Sete dias depois, a recusa da auditoria em aprovar as contas da estatal diante das denúncias da Operação Lava Jato adiou a divulgação do balanço do terceiro trimestre de 2014, surpreendendo o mundo financeiro e derrubando ainda mais as ações da Petrobras na Bolsa.
A visita de Graça, acompanhada do diretor financeiro Almir Barbassa e de gerentes-executivos, não entrou nas agendas oficiais tanto da estatal quanto da CVM. Barbassa participou de pelo menos mais duas reuniões na CVM, segundo informações obtidas pelo Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado, via Lei de Acesso à Informação.
Na semana passada, a CVM abriu inquérito para apurar a responsabilidade de administradores da petroleira nas denúncias de corrupção relativas à Operação Lava Jato e à holandesa SBM Offshore. O regulador aciona quem viola a Lei das Sociedades Anônimas e fiscaliza falhas na prestação de informações. Conhecer os dados financeiros de uma companhia é fundamental para o investidor.
O livro de visitantes da CVM registrou a chegada de Graça no 32º andar da CVM às 17h30 daquela sexta-feira. Também participaram da reunião os gerentes-executivos da Petrobras Antonio Eduardo Monteiro de Castro (estratégia-corporativa), Nilton Antonio de Almeida Maia (jurídico) e Marcos Antonio Silva Menezes (contabilidade), além do gerente de relações com investidores Lucas Tavares de Mello.
Na mesma hora e local foram recebidos Marcos Donizete Panassol, auditor da PwC responsável por assinar os balanços da Petrobras, e Carlos Alberto Lacia e Jorge Manoel, sócios da consultoria. Os seguranças particulares Paulo Roberto e Washington escoltaram o grupo na conversa, que terminou às 18h42.
Quatro dias antes, o jornal O Estado de S. Paulo havia informado que as denúncias de corrupção e revelações feitas pelo ex-diretor de Abastecimento da estatal Paulo Roberto Costa na Operação Lava Jato levaram a PwC a impor condições para auditar os números, entre elas o afastamento do presidente da Transpetro, Sérgio Machado.
Procurada, a Petrobras disse que solicitou reuniões com a CVM “para tratar, principalmente, de assuntos relativos à divulgação dos resultados do terceiro trimestre de 2014”. Isso sugere uma tentativa de se aproximar e se mostrar disposta a colaborar com o órgão regulador. A presença de Graça em meio ao turbilhão de escândalos mostra preocupação com o imbróglio com a PWC.
A CVM informou que audiências particulares fazem parte de sua rotina e que não poderia dar detalhes em atenção à regra de manutenção do sigilo para preservar investigações. A PwC não comentou alegando cláusulas de confidencialidade.
Pelo menos mais duas reuniões a portas fechadas entre a CVM e a diretoria da ocorreram, em 12 de novembro e 3 de dezembro. Todas foram na Sala T da CVM, no centro carioca, a poucas quadras da sede da Petrobras. Dessa vez foram, além de Barbassa e do time de executivos, a gerente jurídica do financeiro Grace Salomão e João Laudo de Camargo, advogado do Bocater, Camargo, Costa e Silva.
No dia seguinte à segunda visita, a Petrobras comunicou o adiamento do balanço contábil, extrapolando o prazo da CVM: 45 dias após o fim do trimestre. Em 12 de dezembro a estatal adiou novamente a divulgação e informou que apresentará dados auditados neste mês e os revisados pela PwC “assim que possível”.
Para uma empresa do porte da Petrobras, a ausência dos números é gravíssima e fecha portas para captações de empréstimos. A falha pode gerar sanções e a suspensão do registro da companhia. Até aqui, acionou multa diária de R$ 500.