No final de abril, foi anunciado o fechamento de onde funciona hoje o anexo do Espaço Itaú de Cinema da Augusta. Vendidos para a incorporadora Vila 11, o local e parte da vizinhança devem ser demolidos para dar lugar a um novo edifício. Nesta quarta-feira, 14, uma audiência pública acontece na Câmara Municipal de São Paulo para debater questões relacionadas à proteção do patrimônio histórico e cultural, em especial, os empreendimentos da região.
A audiência é uma das últimas tentativas da proprietária do Cine Café Fellini, que funciona no anexo, em reverter o fechamento. Em setembro, Silvia Nogueira elaborou um abaixo-assinado, que já reúne mais de 30 mil nomes. "Estamos falando de um cinema, um espaço cultural, metade de minha vida está aqui", conta a administradora de 63 anos, 30 deles dedicados ao local.
O espaço existe desde 1995, quando foi anexado ao cinema. Silvia trabalha lá desde o início. Primeiro administrando a bombonnière e o café do cinema. Em 2011, ela arrendou o Cine Café Fellini para o qual se dedica exclusivamente desde então.
<b>PRESERVAÇÃO</b>
Silvia defende o não fechamento do espaço e a preservação do prédio. "Não posso aceitar isso quieta. Difícil aceitar que alguém com condição financeira queira modificar um lugar que tem vida, circulação de pessoa", comenta. "O público nos apoia, percebo que as pessoas estão indignadas", continua.
Além dos frequentadores do café e do cinema, a administradora diz contar com o apoio do vereador Antonio Donato (PT) que, segundo ela, foi quem conseguiu agendar a audiência pública. De acordo com o vereador, a importância do encontro se dá devido ao valor cultural da região. "A Rua Augusta é uma via icônica de São Paulo, com características urbanísticas que vem desde os anos 1960. Ela também é palco de diferentes tipos de manifestações culturais, atraindo um grande e diverso público todos os dias", aponta. "Queremos saber do poder público se estes e outros elementos foram levados em consideração no licenciamento do empreendimento imobiliário planejado para ser construído no endereço onde funcionam hoje o café e os cinemas", continua.
Silvia diz que sabe que a disputa é difícil. "Estamos buscando uma alternativa – miro no exemplo do pessoal do Parque Augusta e sei que não é impossível", conta. "Espero que a discussão (na audiência) seja no sentido da preservação de um espaço que é necessário para a região", diz.
Apesar das esperanças de Silvia, o encontro de hoje, que deve ter a presença de Ricardo Ferrari Nogueira, presidente do Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo, não tem poder deliberativo. "A ideia é ouvir todas as pessoas envolvidas com o assunto e, se possível, discutir uma solução de consenso", diz Donato. "Uma saída seria a incorporadora construir seu empreendimento, mas preservando o que existe hoje no térreo", continua. Um pedido de pronunciamento foi feito à Vila 11, mas não foi respondido até o fechamento desta edição.
Ainda segundo Donato, o Plano Diretor Estratégico em vigor na cidade prevê que áreas com interesses urbanos específicos (patrimonial ou cultural) devem ser identificadas para serem preservadas. Isso encaixaria o prédio em questão, que já foi também sede do Goethe Institut.
<b>HISTÓRIA</b>
O valor histórico e cultural vem dessa época. O local era conhecido como Casa Goethe e ocupou o espaço de 1963 a 1983. Silvia conta que na última reforma foi mantido o piso da entrada e o taco de madeira da parte interna por serem originais. "A nossa ideia é tombar o espaço", diz.
"As salas são uma referência cinematográfica na cidade e o café já foi escolhido entre os melhores estabelecimentos existentes em salas de cinema. Espaços muito frequentados não só por paulistanos, mas também por turistas que visitam a cidade. Ou seja, têm um valor simbólico significativo", complementa Donato.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>