A intenção do governo federal de aumentar de 25% para 27,5% a mistura de álcool anidro à gasolina pode reduzir a zero a oferta de nafta nacional ao mercado doméstico e ocasionar aumento das importações do insumo. O problema, constatado pela Associação Nacional da Indústria Química (Abiquim), está na necessidade de incluir maior porcentual da nafta na formulação da gasolina para ajustar a octanagem do combustível à maior proporção de álcool.
“Nos anos 1990, 100% da nafta petroquímica usada no Brasil eram de origem nacional. Hoje, é apenas um terço. E, se houver elevação da mistura do álcool de 25% para 27,5%, é provável que o equivalente a toda a nafta para a petroquímica será atendida por importação”, destacou o presidente executivo da entidade, Fernando Figueiredo, em entrevista ao Broadcast. Estimativas da Abiquim indicam que a mudança na formulação da gasolina pode elevar o consumo de nafta em mais de 2 milhões de toneladas anuais.
A redução da oferta de nafta nacional para atender a demanda doméstica é tema de discussões entre a Petrobras e Braskem, empresas que negociam neste momento as condições de um novo contrato de fornecimento de nafta no longo prazo. O acordo em vigor prevê a venda de 7 milhões de toneladas anuais, mas atualmente mais de 50% do volume é atendido com insumo importado dado que a estatal utiliza parte da nafta nacional para a formulação da gasolina.
Como a Braskem é a principal fornecedora da cadeia química nacional, o tema é observado com apreensão pela Abiquim e seus associados, um segmento que responde por mais de 10% do Produto Interno Bruto (PIB) industrial brasileiro.
A escassez de matéria-prima nacional é um dos alertas que serão trazidos em estudo sobre a disponibilidade de insumos para 2025, elaborado pela Abiquim. O material é uma atualização de outro estudo realizado em 2007 com foco na demanda estimada para 2020. “As análises nos levaram a outro estudo, a respeito do ciclo Otto”, afirmou Figueiredo, em referência ao ciclo termodinâmico associado ao funcionamento dos motores dos veículos leves. “Eles mostram que vamos precisar encontrar uma solução para a situação de oferta de matéria-prima”, complementou o executivo, relembrando do crescente consumo de gasolina no Brasil.
Embora não revele detalhes sobre o estudo, o qual deve ser publicado apenas em 2015, o presidente da Abiquim vê com preocupação a redução da disponibilidade local e por isso defende a criação de uma refinaria voltada à fabricação de insumos petroquímicos. A unidade seria abastecida com óleo e gás provenientes da participação da União no pré-sal.
Dado que os projetos petroquímicos precisam de ao menos três a cinco anos entre o início dos estudos e o começo da produção, a definição sobre a situação de oferta de matéria-prima é considerada urgente. “O governo precisa definir o que pretende fazer com o gás e o petróleo do pré-sal. Precisamos da definição agora para que tenhamos projetos em andamento no final da década”, salientou Figueiredo.
A construção dessa refinaria poderia ser feita pela iniciativa privada, e não pela Petrobras, e é considerada uma alternativa de longo prazo para garantir a competitividade da indústria química nacional. No curto prazo, defende o presidente da Abiquim, o governo deveria adotar medidas de estímulo à redução do consumo de gasolina no Brasil, o que também limitaria a demanda por nafta.
O Estudo do Potencial de Diversificação da Indústria Química Brasileira, encomendado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) com intuito de identificar alternativas ao setor, reforça, entre outros aspectos, justamente a utilização de óleo e gás a ser administrado pela União. “Precisamos agregar valor à produção do pré-sal e por isso precisamos de uma refinaria petroquímica. Se não corrigirmos o rumo, não teremos mais novos investimentos na indústria química brasileira”, alerta o executivo, após lembrar o déficit setorial de mais de US$ 30 bilhões ao ano na balança comercial.