Estadão

Aumento do petróleo não mexe com a gasolina

O preço do barril de petróleo ultrapassou nesta semana o patamar de US$ 70, nível que não era visto desde maio de 2019. E, segundo analistas, tudo indica que pode chegar aos US$ 80 ainda neste ano por causa da retomada global. O avanço, porém, não tem sido repassado pela Petrobrás para os preços dos combustíveis. O último reajuste da gasolina e do óleo diesel foi em 1.º de maio e, mesmo assim, as revisões foram para reduzir os valores em cerca de 2%.

A explicação é que a valorização do real em relação ao dólar nas últimas semanas tem ajudado a Petrobrás a manter os preços inalterados em suas refinarias. Para definir o valor dos seus produtos, a empresa considera tanto as cotações do dólar quanto do petróleo no mercado internacional, além dos custos logísticos de importação. Mesmo assim, com a escalada da cotação da commodity nos últimos dias, novos aumentos serão inevitáveis, segundo especialistas.

A última alteração nos preços da Petrobrás se deu um pouco depois da posse do general Joaquim Silva e Luna na presidência da empresa, em substituição a Roberto Castello Branco, demitido pelo presidente Jair Bolsonaro por promover "aumentos excessivos" dos combustíveis. Em 1.º de maio, o barril do petróleo estava cotado a US$ 67, valor que subiu para US$ 71 na quarta-feira passada. Houve, portanto, uma alta de 6%. Já o dólar, nesse mesmo período, passou de R$ 5,40 para algo próximo dos R$ 5,00.

"A alta do preço do petróleo está calcada na expectativa de retomada econômica. Os Estados Unidos estão com um espraiamento maior da vacinação e isso aumenta agora com o verão no Hemisfério Norte, quando as pessoas se locomoverem mais", afirmou a professora e assessora estratégica da Fundação Getúlio Vargas Energia (FGV) Fernanda Delgado.

Para ela, a Petrobrás, em algum momento, terá de alinhar seus preços aos do mercado internacional. Mas a pesquisadora destacou que a empresa já avisou que os prazos para os reajustes vão ser mais longos na nova gestão. Um mês após a posse do general Luna, a estatal comunicou que não teria uma frequência definida de ajustes. O seu antecessor revisava os valores em intervalos de 10 a 15 dias.

A ausência de ajustes da Petrobrás poderia ajudar os importadores brasileiros a aumentar sua fatia no mercado de combustíveis e gerar maior concorrência, reduzindo os preços internos, mas, de acordo com o presidente da Associação dos Importadores de Combustíveis (Abicom), Sérgio Araújo, isso não está acontecendo. Em abril, a estatal foi responsável por 48% das importações de diesel e, em maio, o resultado deve ter sido semelhante. "O general Luna está até com sorte, porque os aumentos nas commodities têm sido ajudados pela redução do câmbio."

Então, o preço da Petrobrás está acompanhando bem a paridade. Eu não diria que está gerando uma janela de oportunidades <i>(para importação)</i>, mas a defasagem tem ficado muito pequena", avaliou Araújo.

Até o mês passado, quando o dólar estava cotado a cerca de R$ 5,50, a diferença entre os preços praticados nas refinarias da Petrobrás e os de importação apontava para uma defasagem de 4% a 5%, ou cerca de R$ 0,10 a R$ 0,12 por litro. Com o câmbio em torno dos R$ 5, essa defasagem caiu para o intervalo de 1% a 2%, disse o executivo.

Pesquisador do Instituto de Energia da PUC-Rio, Edmar Almeida avaliou que qualquer demora no ajuste de preços que não seja justificada pela competição pode representar perdas para a Petrobrás. Em mercados abertos, as companhias, às vezes, não repassam imediatamente aumentos no preço internacional para proteger seu mercado da concorrência. "Mas estamos falando de dias, no máximo semanas. Para poder segurar preços em momentos de altas muito expressivas, as empresas trabalham com hedge <i>(proteção cambial)</i>", afirmou Almeida, complementando que operações desse tipo têm custo, embora sejam comuns em ambientes competitivos.

A Petrobrás disse em nota que não houve alteração na política de preços e que monitora "permanentemente o ambiente de negócios e o comportamento dos seus competidores, visando a um posicionamento competitivo adequado".

As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>

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