Estadão

Autoridades dos EUA fazem nova viagem à Venezuela para tentar restabelecer laços

Altos funcionários do governo dos Estados Unidos viajaram discretamente para a Venezuela em mais uma tentativa de buscar americanos detidos e reconstruir as relações com a gigante petrolífera sul-americana enquanto a guerra na Ucrânia se arrasta, forçando os EUA a recalibrar seus objetivos de política externa.

Um porta-voz do Departamento de Estado dos EUA descreveu a viagem como uma visita de bem-estar focada na segurança de vários cidadãos americanos detidos em Caracas, incluindo um grupo de executivos de petróleo da Citgo, com sede em Houston, presos há mais de quatro anos.

A delegação inclui Roger Carstens, o enviado especial presidencial para assuntos de reféns, bem como o embaixador James Story, que chefia a Unidade de Assuntos Venezuelanos do governo dos EUA na vizinha Colômbia.

O presidente Nicolás Maduro confirmou a visita durante declarações televisionadas, dizendo que a delegação se reuniria com um aliado de confiança, o presidente da Assembleia Nacional, Jorge Rodríguez, para "dar continuidade à agenda bilateral entre o governo dos Estados Unidos e o governo da Venezuela".

A visita segue uma viagem surpresa em março dos dois funcionários e Juan Gonzalez, diretor do Conselho de Segurança Nacional para o Hemisfério Ocidental. Essa foi a primeira viagem da Casa Branca ao país em mais de duas décadas.

Essa viagem resultou na libertação de dois cidadãos americanos, que os EUA consideraram que estavam detidos injustamente, e na promessa de Maduro de iniciar as negociações com seus oponentes. Meses antes, ele havia suspendido as negociações, lideradas por diplomatas noruegueses no México, depois que um importante aliado foi extraditado para os EUA por acusações de lavagem de dinheiro.

A viagem segue um apelo público ao governo Biden da família de Matthew Heath, um ex-fuzileiro naval dos EUA preso há quase dois anos por acusações de terrorismo que os EUA consideram forjadas. A família de Heath no início deste mês pediu ao governo que tome medidas urgentes para salvar sua vida após o que eles disseram ter sido uma tentativa de suicídio.

<b>Petróleo</b>

Não está claro o que mais os oficiais estão tentando realizar durante a missão. Mas no topo da lista provavelmente estará a exigência de Maduro de que os EUA suspendam as sanções petrolíferas que exacerbaram as dificuldades no que já foi a nação mais próspera da América do Sul.

Ao chegar a Caracas, Story se encontrou por duas horas com Juan Guaidó, segundo alguém próximo ao líder da oposição apoiada pelos EUA. Os dois discutiram os esforços para impulsionar as negociações no México, segundo a pessoa que pediu anonimato para discutir a reunião privada.

Desde a viagem de março, tanto o governo de Joe Biden quanto o governo socialista da Venezuela mostraram vontade de se envolver após anos de hostilidades entre Washington e Caracas pela reeleição de Maduro em 2018, marcada por irregularidades. Os EUA e outras nações retiraram o reconhecimento de Maduro após essa eleição e, em vez disso, reconheceram Guaidó como o líder legítimo da Venezuela.

Embora as negociações entre Maduro e a oposição ainda não tenham sido retomadas, os EUA renovaram uma licença para que as empresas petrolíferas, incluindo a Chevron, pudessem continuar realizando apenas a manutenção básica dos poços que operam em conjunto com a gigante estatal de petróleo da Venezuela PDVSA.

A Casa Branca também suspendeu as sanções impostas em 2017 contra o sobrinho da primeira-dama Cilia Flores, que na época era acusada de facilitar a corrupção enquanto era um alto funcionário da PDVSA.

Os EUA também estão interessados em explorar a vasta riqueza petrolífera da Venezuela, já que a guerra na Ucrânia levou a um salto de 50% nos preços do petróleo, que está alimentando a pior inflação em décadas.

Maduro, durante seus comentários na televisão na última segunda-feira, 17, fez alusão a falas de uma autoridade próxima ao presidente francês Emmanuel Macron, pedindo aos EUA que flexibilizem as sanções à Venezuela e ao Irã para compensar o aumento dos preços do petróleo. Os comentários foram feitos à margem de uma reunião dos líderes do Grupo dos Sete na Alemanha.

A Venezuela tem as maiores reservas comprovadas de petróleo do mundo, mas a produção despencou na última década como resultado da queda nos preços, má gestão e sanções dos EUA. Sua presença no mercado mundial de petróleo é hoje marginal e qualquer tentativa de aumentar a produção levaria tempo para se concretizar. (Fonte: Associated Press)

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