Pesquisa Ibope/Estadão/TV Globo mostra que, na capital paulista, o auxílio emergencial não ajudou Jair Bolsonaro a melhorar a popularidade. Não há diferenças na aprovação do governo entre quem recebeu ou não o benefício.
O auxílio emergencial pago pelo governo federal a desempregados e trabalhadores informais ajudou o presidente Jair Bolsonaro a melhorar a sua popularidade, segundo demonstram pesquisas nacionais de opinião pública. Mas isso não aconteceu na cidade de São Paulo. Na capital, não há diferenças significativas na aprovação ao governo entre quem recebeu e quem não recebeu o benefício.
A primeira da série de pesquisas Ibope/Estadão/TV Globo sobre a campanha municipal mostra que, no total do universo dos entrevistados, a gestão Bolsonaro é considerada boa ou ótima por 27% e ruim ou péssima por 48%. No grupo que afirma ter recebido o auxílio – que chega a cerca de 40% do total de entrevistados -, as opiniões são semelhantes: 29% veem o governo como bom ou ótimo, e 45% como ruim ou péssimo.
Em São Paulo, as taxas de aprovação e desaprovação à gestão do presidente praticamente não variaram desde março, quando a pandemia do novo coronavírus ainda estava em sua fase inicial no Brasil. Pesquisa Ibope feita naquela época mostrou que o governo era considerado ruim ou péssimo por 48% e bom ou ótimo por 27% dos paulistanos. Outro levantamento do mesmo instituto, na terceira semana de setembro, mostrou números próximos a isso.
Quando a primeira pesquisa foi feita, a distribuição do auxílio emergencial ainda não havia começado. As duas mais recentes foram realizadas após o pagamento de algumas parcelas.
No País como um todo, o quadro é diferente. Duas pesquisas nacionais do Ibope, feitas no final de 2019 e em setembro deste ano, mostraram melhora significativa nos números: entre um levantamento e outro, a parcela dos que veem o governo como ótimo ou bom subiu de 29% para 40%.
Analistas creditaram essa melhora ao auxílio emergencial – benefício de até nove parcelas mensais, em valor que, no total, pode chegar a R$ 4,2 mil (ou o dobro disso, no caso de mulheres chefes de família). Com o auxílio, o total de brasileiros atendidos por programas federais de renda básica chegou a cerca de 65 milhões.
O melhora da aprovação a Bolsonaro fez com que candidatos a prefeito passassem a buscar mais o apoio presidencial. Em São Paulo, Celso Russomanno (Republicanos) até anunciou a intenção de criar um "auxílio paulistano", se for eleito, para complementar o benefício federal na cidade.
Segundo a pesquisa Ibope divulgada na sexta-feira, Russomanno tem 26% das intenções de votos. Ele é seguido pelo atual prefeito, Bruno Covas (PSDB), com 21%, Guilherme Boulos (PSOL), com 8%, e Marcio França (PSB), com 7%.
Como a margem de erro máxima da pesquisa é de três pontos porcentuais para mais ou para menos, Russomanno e Covas estão empatados tecnicamente. O mesmo acontece na terceira colocação, entre Boulos e França. Os demais candidatos tiveram 2% ou menos das preferências.
<b>Desempenho</b>
Candidato à reeleição, Bruno Covas começa a campanha eleitoral com a taxa de avaliação positiva de sua administração exatamente igual à negativa. Segundo a pesquisa Ibope/Estadão/TV Globo, 27% dos paulistanos consideram seu governo bom ou ótimo, e 27% o veem como ruim ou péssimo. A avaliação regular é a que congrega a maior parcela de moradores da cidade: 43%.
O empate persiste quando o Ibope dá apenas duas alternativas e pergunta se o eleitor aprova ou desaprova a administração de Covas – isso obriga o contingente que considera a gestão regular a se posicionar. Nesse caso, 48% afirmam que aprovam, e 45%, que desaprovam – a diferença está dentro da margem de erro da pesquisa.
Segundo o Ibope, apenas metades dos eleitores que opinam positivamente sobre a gestão Doria declaram intenção de voto no prefeito. Isso significa que ele tem potencial para crescer nesse segmento.
Já o governador João Doria (PSDB), na cidade de São Paulo, encontra mais cidadãos insatisfeitos com seu trabalho. A gestão é considerada ruim ou péssima por 42%, e boa ou ótima por apenas 22%. Para 35%, seu governo é regular.
A pesquisa Ibope foi realizada entre os dias 30 de setembro e 1 de outubro, com 805 pessoas. As entrevistas foram feitas de forma presencial. Por causa da pandemia, os entrevistadores usaram equipamentos de proteção. O levantamento foi registrado no Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo sob o protocolo SP-09520/2020.
<b>Renegociar dívida de SP não é ato só do presidente</b>
No primeiro debate entre os candidatos à Prefeitura de São Paulo, na quinta-feira passada, Celso Russomanno (Republicanos) citou sua amizade com o presidente Jair Bolsonaro para dizer ser "o único (entre seus concorrentes) que tem condição de renegociar a dívida de São Paulo". Seria uma forma, segundo ele, de tirar do papel a promessa de pagar um auxílio financeiro a famílias carentes.
Mas, para revisar o débito com a União, é preciso mais do que uma boa relação, porque seria inviável a capital paulista ter condições mais favoráveis sem que os mesmos benefícios sejam estendidos a todos os demais municípios do País. A dívida da Prefeitura com o governo federal atualmente soma R$ 26 bilhões. Segundo dados do Tesouro Nacional, o atual prefeito e candidato à reeleição, Bruno Covas (PSDB), pagou R$ 2,31 bilhões em 2019. O valor é maior do que todo o previsto para a área de assistência social no orçamento da cidade para 2021 – R$ 1,353 bilhão.
A renegociação exclusiva com São Paulo não depende apenas de Bolsonaro, pois teria de ser aprovada antes pelo Congresso. Além disso, técnicos do Ministério da Economia avaliam que isso poderia abrir a porteira para uma revisão em cascata de dívidas de outros municípios, dando margem para aumento de gastos.
Integrantes da equipe econômica de Bolsonaro afirmam não ser possível um novo acordo bilateral entre São Paulo e União sem mudança na Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). O artigo 35 da lei veda a renegociação. Para fazer o acordo, seria preciso alterar a legislação.
A promessa de oferecer o "auxílio paulistano" foi feita na terça-feira passada, quando Russomanno cumpriu sua primeira agenda de campanha. Na ocasião, disse que ainda estudava formas de financiar o benefício, que não tem valor definido. Questionado dois dias depois, o candidato apresentou a renegociação da dívida como solução. "Pela minha amizade com o presidente Bolsonaro, com o meu trânsito no Congresso Nacional e nos ministérios, tenho condição de fazer isso. Esse dinheiro, mais a ajuda que eu vou trazer do governo federal, vai subsidiar esse atendimento às pessoas", afirmou.
O economista e consultor Raul Velloso, especialista em finanças públicas, diz que as renegociações são sincronizadas com os demais municípios e Estados. "O que fizerem para um serão pressionados a fazer para os outros", alertou. Para ele, na prática, a renegociação seria uma forma de transferir o ônus de gasto para a União. "O governo não consegue nem fazer o programa dele. Como é que vai arrumar dinheiro?", questionou, em uma referência ao Renda Cidadã, que o governo federal também tenta tirar do papel.
O Ministério da Economia afirmou que qualquer renegociação de dívida entre entes da federação depende de autorização legislativa. "Via de regra, quando há lei que permita esse tipo de renegociação, normalmente ela não é direcionada a um ente federado específico, mas sim a um conjunto de entes subnacionais que atendam determinados critérios definidos em lei", disse a pasta, em nota.
O governo discute com o Congresso a aprovação de um plano de socorro a Estados e municípios com dificuldades financeiras – o chamado Plano Mansueto. A medida, no entanto, prevê exigência de medidas duras de ajuste fiscal, sem espaço para aumentar gastos.
Procurada, a campanha de Russomanno não respondeu.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>