O ciclista brasileiro Henrique Avancini é um dos grande nomes do mountain bike mundial. Ele acabou de assumir a liderança do ranking na modalidade olímpica, venceu uma etapa da Copa do Mundo, algo inédito no País, em competição na República Checa, e agora retornou da Europa para competir no Campeonato Brasileiro, que será disputado de 30 de outubro a 2 de novembro, em Mairiporã (SP).
Como trunfo para sua preparação para os Jogos de Tóquio, ele tem uma pista que desenvolveu no "quintal" de casa em Petrópolis e que simula as subidas e o tipo de terreno que encontrará no Japão. "Fiz uma réplica parecida com a que terá na Olimpíada", revelou o atleta da Cannondale Factory Racing, em entrevista ao Estadão.
Qual é a sensação de ser primeiro no ranking mundial de mountain bike?
Sinceramente, ainda não consegui parar e absorver isso. É um objetivo de carreira que se tornou realidade. Viajei da Europa para o Brasil e pisei aqui como número um do mundo. É um momento bem simbólico para mim e está passando um filme na cabeça. É um grande marco para mim individualmente e para o esporte brasileiro, para o ciclismo. Tem um peso enorme e estou muito feliz.
Antes de ser número 1, você colocou seu nome na história da modalidade com a vitória na etapa da Copa do Mundo na República Checa. Acha que isso pode abrir portas para outros atletas nacionais?
Acredito que um feito desses traz a motivação para os brasileiros, pois podem ter uma referência com uma história de vida similar. Eu me desenvolvi no Brasil antes de ir para fora, então é um caminho realista para ser seguido e quebra paradigmas. Além disso, a gente conseguiu construir respeito e reputação fora do País.
Logo depois dessa vitória, o Nino Schurter, que é campeão olímpico e considerado o melhor de todos os tempos, fez uma publicação falando se sua vitória em Nové Mesto, e muita gente achou que ele estava te ironizando. Mas você respondeu numa boa a postagem dele. Existe rivalidade entre vocês?
Eu não vi como provocação. Óbvio que ele se vê num nível acima, pela história dele como atleta, e ele reconhece que foi uma vitória boa. Era um dia que ele estava bem, e batê-lo na parte estratégica foi muito significativo, porque ele é uma cara muito bom nessa parte. Eu venho estudando muito isso e consegui concretizar nessa competição.
Você teve essa primeira vitória em uma etapa da Copa do Mundo, mas pouco depois foi apenas 10º lugar no Mundial. Como foi sair de um resultado fantástico para um não tão empolgante? Isso ajuda a manter os pés no chão?
Mesmo depois da vitória na Copa do Mundo, eu não me iludi. Sei o quão cruel é o esporte, com variação de condições, de clima, de pista… Anlisando os resultados de forma fria, nas cinco provas que fiz, fui o atleta mais consistente, que somou mais pontos nas cinco corridas, mesmo com o 10º no Mundial. Lá tive problema de pneu e foi decepcionante, meu nível nao foi o mesmo da semana anterior, e na parte final da prova já vinha sofrendo. Então mantenho os pés no chão pois sei como essa modalidade funciona. E sei também que preciso me desenvolver muito em algumas condições, como em locais mais frios ou com lama.
Como foi seu treinamento nesse período de pandemia?
Eu treinei bem. Consegui fazer boas alterações, que geraram bons resultados. Fui para a Europa no final de agosto e os atletas de lá já estavam competindo desde o início de julho. Eles estavam dois meses de competição na minha frente, e mesmo assim me destaquei.
É verdade que você construiu uma pista nos moldes da que teremos no Japão?
Sim. Eu tinha um terreno muito próximo, numa área quente, de umidade muito alta, que se assemelha à pista de Izu, onde vai ser a competição de mountain bike nos Jogos Olímpicos. Então fiz uma réplica em Petrópolis parecida com a que terá na Olimpíada. Tentei projetar o mesmo tipo de subida que vou ter lá, replicar o tipo de aderência do terreno. Isso ajuda a tornar as condições de Tóquio cada vez mais naturais para mim.
Como foi esse trabalho?
Eu acabei tendo mais tempo para desenvolver essa pista. Tinha um terreno lá que dava para simular, então a gente pegou o grau de inclinação de algumas subidas e trabalhamos com faixa de tempo para percorrer. Tipo um subida tem entre 20 e 30 segundos, então faz o traçado tentando chegar nessa duração de esforço. A ideia foi tentar trazer o tipo de esforço mais similar, mas obviamente cada pista é única e não dá para fazer algo igual.
Em um primeiro momento você não se mostrou muito favorável ao adiamento da Olimpíada. Já assimilou essa mudança?
Não fui favorável aos argumentos que foram colocados, isso que incomodou um pouco, mas o adiamento, pensando individualmente, foi uma coisa muito boa. Tenho mais um ano de trabalho e será uma grande vantagem.
Está otimista para os Jogos de Tóquio? Qual é a sua meta?
Continuo otimista e não mudei a ambição. O objetivo sempre foi chegar como claro candidato à medalha e pretendo manter esse nível até os Jogos de Tóquio. Os objetivos de preparação eu alcancei, pois queria muito vencer uma Copa do Mundo antes de Tóquio, e consegui isso. Então me vejo onde eu queria estar.