O clima apreensivo no exterior em meio a crescentes preocupações com a possibilidade de uma recessão mundial contamina o Ibovespa, ainda que o índice tenha se descolado nos últimos dias. Nem mesmo a percepção de que a economia doméstica segue em situação melhor do que outros países e a alta de 1,34% do minério de ferro em Dalian, na China, limitam as perdas do principal índice da B3. Ainda assim neste cenário, o índice Bovespa pode fechar a semana em alta, dado que acumula até o momento ganhos de 2,07%. Na anterior, cedeu 2,69%.
"Na verdade, a alta recente do Ibovespa estava esquisita, embora tente entendê-la. Hoje, meio que convergiu para a situação de piora externa", avalia André Luzbel, head de renda variável da SVN Investimentos.
A cautela é geral. Novos indicadores de atividade divulgados na Europa elevam esses temores. Nos Estados Unidos, o PMI Composto foi na direção contrária, subindo a 49,3 em setembro, ao maior nível em três meses. Neste sentido, reforça a percepção de que o Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) terá que continuar com postura agressiva e firme no combate à inflação, de forma a quem sabe promover outro aumento de 0,75 ponto porcentual nos juros em sua próxima reunião. Nesta semana, elevou a taxa nesta magnitude.
Agora, os investidores esperam as falas do presidente do Fed, Jerome Powell, e outros dirigentes a fim de se ter novas informações sobre a situação da economia americana e do mundo. Depois do tom duro do Fed, a ideia é ver se a autoridade manterá o mesmo discurso ou não.
Em queda praticamente generalizada, o Ibovespa segue renovando mínimas nesta manhã para a faixa dos 111 mil pontos, após começar o pregão ao 114.046,98 pontos (-0,02%), diante do elevado temor de que ocorra uma recessão no mundo.
A percepção foi reforçada após dados fracos na Europa. Contudo, como observa Enrico Cozzolino, head de análise e sócio da Levante Investimentos, isso não deveria ser visto como uma novidade, dado que é algo que se vem cogitando desde o começo do ano.
"São números ruins, indicando arrefecimento econômico. O ponto é que não é uma novidade, mas sim uma tendência, uma irracionalidade dos mercados quando chegam a esperar dados melhores", avalia Cozzolino.
Ontem, quando as bolsas norte-americanas fecharam em queda após aperto monetário nos Estados Unidos e na Europa, o principal indicador da B3 subiu 1,90%, aos 114.070,48 pontos.
Contudo, o recuo do Ibovespa é mais intendo do que o visto em Nova York. Como lembra Luzbel, da SVN Investimentos, o índice Bovespa vinha reagindo na contramão dos mercados internacionais. Ontem, por exemplo, aqui subiu e Wall Street caiu.
"Na verdade, a alta recente do Ibovespa estava esquisita, embora tento entendê-la, dada a percepção de melhora para Brasil", diz. "Só que hoje meio que converge para a situação de piora externa. Porém, é um cenário que já se falava, o de recessão, só que parece estar se concretizando", completa Luzbel.
Como destaca o economista Álvaro Bandeira, os investidores seguem preocupados com a desaceleração da economia mundial e um possível processo recessivo. Neste ambiente, completa o também consultor de Finanças, é difícil o Ibovespa manter o nível da véspera (114.070,48 pontos), "principalmente com o petróleo mostrando forte queda"
De fato, a cautela é ainda maior nesta sexta-feira no exterior, como retrata a desvalorização das bolsas europeias, que supera 2%, enquanto as americanas cedem em torno de 1,5%. Já o petróleo acentua as perdas para perto de 5%, indo para uma quarta semana seguida de desvalorização. Os rendimentos dos Treasuries sobem e já alcançaram máximas de vários anos.
Além da queda do Ibovespa, os juros futuros sobem, renovando máximas, enquanto o dólar à vista chegou a atingir R$ 5,2376, em alta de 2,31%.
Às 11h33, o Ibovespa caía 2,60%, aos 111.035,29 pontos, após ceder 2,78% (mínima aos 110.904,19 pontos).