Estadão

Aversão a risco externa e Vale empurram Ibovespa para queda, mesmo com China

Temores de escassez de gás na Europa deixam os mercados em estado de alerta nesta quarta-feira, 20, um dia antes da decisão de política monetária do Banco Central Europeu (BCE), que deve elevar os juros pela primeira vez em 11 anos. A cautela internacional ecoa no Ibovespa, que ontem conseguiu retomar o nível dos 98 mil pontos, após quatro sessões aquém desta marca. Contudo hoje tem dificuldade em sustentar esta marca, ainda por conta dos dados fracos da Vale relativos ao segundo trimestre e em meio ao recuo nas cotações do petróleo no exterior.

A maioria das bolsas americanas cai – exceção do Nasdaq (subia 0,4% perto de 11h). As da Europa cedem um pouco mais, na esteira do plano da União Europeia (UE) de reduzir em 15% o consumo de gás na região, elevando as já conhecidas preocupações inflacionárias e de recessão no mundo. Um eventual corte total do fornecimento de gás da Rússia reduziria o Produto Interno Bruto (PIB) da União Europeia em até 1,5%, estima a UE.

A despeito de novo sinal da China em estimular sua economia e da alta de 1,52% do minério de ferro naquele mercado, os dados fracos da Vale relativos ao segundo trimestre pesam nas ações em si e no índice Bovespa. Os papéis da mineradora cediam 3,30% também perto de 11 horas.

A produção de minério de ferro da Vale caiu 1,2% no segundo trimestre, atingindo 74,108 milhões de toneladas, na comparação com o mesmo período de 2021. O recuo vem na esteira da queda de mais de 40% dos preços da matéria-prima. A Vale ainda revisou o guidance de produção para 2022.

Os dados impõem um quadro desafiador para o caixa da mineradora, em meio às incertezas globais na esteira de juros altos que podem conduzir o mundo a uma recessão. Os números podem dificultar uma recuperação dos papéis da Vale nesta quarta-feira. Só em julho amargam perdas de 13%.

O fato de Banco Popular da China ter deixado suas taxas de juros para empréstimos de um a cinco anos inalteradas é uma boa notícia, avalia Leonardo Neves, especialista em renda variável da Blue3. "Isso é positivo, pois vai na linha de que o país continua a fomentar o crescimento econômico", diz.

Porém, pondera Neves, o momento é de cautela, dadas as decisões de política monetária que acontecem nesta quinta-feira, 21. Ele destaca principalmente a do Banco Central Europeu (BCE), que deve subir os juros pela primeira vez em 11 anos. Em sua visão, o BCE tende a optar por um aumento de 0,25 ponto porcentual no juro básico, a fim de não comprometer o crescimento econômico e tentar conter a elevada inflação da zona do euro.

"Se vir muito mais, deve assustar o mercado. Portanto, a cautela deve mediar as posições, em dia de balanços", diz, citando especialmente o da Weg, informado hoje nos Estados Unidos. A empresa reportou lucro líquido de R$ 912,965 milhões no segundo trimestre deste ano, queda de 19,5% em relação ao mesmo período de 2021. As ações da empresa da B3 reagem em queda de quase 4%.

"É natural um sentimento mais conservador do investidor antes de decisões sobre juros. Além disso, essa notícia da UE sobre o gás pode piorar o quadro inflacionário já alto. O BCE está em uma situação delicada. Se subir muito os juros, corre o risco de uma recessão. Se não elevar, tem a questão da inflação", avalia o especialista da Blu3.

Apesar da alta do Ibovespa na véspera, acompanhando as bolsas norte-americanas, ainda são esperados mais dias de mercado agitado como os últimos, estima em nota Antônio Sanches, analista de investimentos da Rico. Conforme a temporada de resultados e indicadores macroeconômicos nos Estados Unidos apresenta novas informações sobre a economia, as bolsas devem continuar respondendo com volatilidade.

"Os indicadores de sentimento do mercado têm se tornado cada vez mais negativos, dado um possível cenário de recessão à frente", afirma Sanches.

Às 11h01 desta quarta, o Ibovespa cedia 0,77%, aos 97.485,22 pontos, após cair 0,82%, na mínima intradia aos 97.436,54 pontos e máxima aos 98.243,69 pontos, mesmo nível da abertura.

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