Estadão

Aversão a risco no exterior contamina Ibovespa, que mostra baixa

A percepção de que os juros não cairão neste ano em importantes economias, como a dos Estados Unidos e a da zona do euro, gera aversão a risco nos mercados, o contamina o Ibovespa. A agenda esvaziada desta segunda-feira, 6, pode chamar para volatilidade, enquanto não ganha força. Nos próximos dias, serão conhecidos balanços de grandes bancos, como Itaú e Bradesco.

Também serão divulgados o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de janeiro e a ata do Comitê de Política Monetária (Copom). No exterior, os destaques são falas de dirigentes de bancos centrais, especialmente dos Estados Unidos (Jerome Powell).

O noticiário sobre a Americanas, após o rombo bilionário, também deve ficar no radar nesta semana, após a varejista afastar a diretoria da empresa em tentativa de blindar a investigação. Além disso, os bilionários brasileiros Jorge Paulo Lemann, Beto Sicupira e Marcel Telles devem se reunir com representantes dos credores da Americanas nesta semana.

Ao cair por três pregões seguidos, o índice Bovespa encerrou a semana passada acumulando variação negativa no ano de 1,10% (agora, isso já está em -1,60%). Na sexta, fechou com declínio de 1,47%, aos 108.523,43 pontos.

Como avalia o economista Álvaro Bandeira, o Ibovespa não deveria abandonar a marca dos 108 mil pontos fechamento sob pena de descer ainda mais. "Atenção aos 108 mil pontos e depois aos 105 mil pontos, que pode acelerar novas perdas", diz em comentário matinal.

Há instantes, o índice Bovespa reduziu o ritmo de queda, em meio ao avanço do petróleo no exterior, depois de cair 0,79%, aos 107.669,51 pontos, na mínima intradia. Ao mesmo tempo, o dólar tentava operar perto da mínima diária, reduzindo a velocidade de alta. Já os juros longos seguiam avançando, em máximas, em meio a elevados temores com a inflação. Os índices de ações do exterior também cedem, o que reforça o clima cauteloso interno.

Por aqui, o governo ainda tenta emplacar um valor maior para o mínimo, o que eleva preocupação fiscal. O ministro Luiz Marinho (Trabalho) disse há pouco que, se houver espaço, o governo elevará o salário mínimo, agora em R$ 1.302, para R$ 1.320.

A desvalorização do principal indicador da B3 ainda reflete as novas críticas do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, ao juro alto, à meta de inflação e à independência do Banco Central feitas na semana passada.

Neste sentido e após o comunicado do Comitê de Política Monetária (Copom) mostrar sua preocupação com a desancoragem das expectativas, fica no radar o boletim Focus, que trouxe nova rodada de aceleração nas projeções para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). A projeção para o IPCA em 2023 subiu de 5,74% para 5,78% e a para 2024 foi de 3,90% para 3,93%.

Os dados tendem a reforçar as estimativas de que o Copom vai demorar para voltar a cortar a Selic, que está em 13,75% ao ano. Este é o mesmo sentimento no exterior, principalmente quanto ao Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) e ao Banco Central Europeu (BCE).

O temor de que os juros demorarão mais para começar a cair está aceso na mente dos investidores, ainda na esteira da divulgação de forte geração de empregos nos EUA em janeiro, na sexta-feira. Se de um lado, o indicador sugeriu a chance de um recessão leve nos Estados Unidos, de outro distanciou uma possível queda dos juros neste ano.

As bolsas europeias e os índices futuros de ações norte-americanos caem, enquanto os juros dos Treasuries, o DXY do dólar e as commodities sobem. O petróleo avança acima de 1%, enquanto o minério de ferro negociado na bolsa de Dalian, na China, teve alta de 0,89%, a US$ 126,03. Ainda assim, as ações ligadas ao segmento caem: Vale ON, por exemplo, cedia 1,45% perto de 10h50. Já as da Petrobras subiam 0,69% (PN) e 0,79% (ON), enquanto o Ibovespa cedia 0,26%, aos 108.191,34 pontos.

"Os ruídos fortes nos mercados devem ampliar a volatilidade dos ativos de risco", diz o economista Álvaro Bandeira.

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