Estadão

Aversão a risco no exterior e cautela fiscal no Brasil empurram Ibovespa para baixo

O quadro incerto no Brasil e no exterior provoca queda do Ibovespa, que já cai para o nível dos 121 mil pontos depois de abrir aos 122.331,39 pontos (-0,01%). Ontem, o principal indicador da B3 fechou em baixa de 0,25%, aos 122.331,39 pontos, depois de cinco altas consecutivas. Há alguns vetores de alta, como a valorização de 3,38% do minério de ferro em Dalian, na China, e de cerca de 0,40% do petróleo.

Entretanto, prevalece a desvalorização do Índice Bovespa que se dá mesmo após o IPCA-15 de junho vir com um resultado (0,39%) menor do que a mediana das projeções (0,43%), embora tenha acelerado em 12 meses a 4,06%.

"Tinha tudo para ter um pregão menos desfavorável, não digo nem bom pois o exterior está ruim. A curva futura de juros dos Estados Unidos está abrindo e o dólar ganhando força. Os sinais de fora não são os melhores do mundo", afirma Larissa Quaresma, analista da Empiricus Research.

Até o momento, o dólar à vista atingiu máxima a R$ 5,5215, com alta de mais de 1,00%, ajudando a impulsionas ações de empresas exportadoras como Suzano ON, que subia 2,43%. Já as ações de grandes bancos cediam em meio à cautela fiscal.

O IPCA-15 vem em meio ao aval do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao decreto que altera o regime de meta de inflação anual para o modelo de meta contínua a partir de 2025, com alvo em 3%. "A questão é se a inflação irá mesmo convergir para este nível 3%", questiona Luis Roberto Monteiro, da mesa institucional da Renascença, ressaltando o crescente avanço da desancoragem das expectativas inflacionárias e das preocupações fiscais.

Além das incertezas no Brasil, os investidores mantêm certa cautela quanto às expectativas de queda dos juros nos Estados Unidos. "Então, o mercado interno fica exposto ao exterior. E com o fiscal complicado no Brasil fica difícil", acrescenta Monteiro.

No encontro ontem no Palácio do presidente Lula com ministros para tratar da meta de inflação contínua, também esteve presidente o diretor de Política Monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo. A presença de Galípolo não estava na agenda oficial do governo, o que gera especulações de que ele será o próximo presidente do BC com o fim do mandato de Roberto Campos Neto.

Nesta manhã, Lula confirmou que Galípolo foi à reunião para falar sobre a meta de inflação, inflacionária, mas disse que ainda não está pensando na presidência do Banco Central. O encontro extraoficial pode dar uma sensação de que o futuro presidente do BC pode atuar mais alinhado com os desejos políticos do Palácio do Planalto.

Também em entrevista ao UOL nesta manhã, o chefe do Executivo voltou a criticar o atual nível de 10,50% ao ano da taxa Selic. "BC tem necessidade de manter taxa de juros a 10,5% quando inflação está 4%?", perguntou Lula.

A analista da Empiricus Research ainda acrescenta que apesar de estimar que a próxima gestão do BC manterá uma linha técnica, falas como as de Lula provocam ruídos e geram volatilidade. "O que pesa mesmo são essas críticas e afirmações de que não se pautará no mercado para promover corte de gastos", diz Larissa.

O presidente do Brasil afirmou que o governo realiza a revisão dos gastos públicos "sem levar em conta o nervosismo do mercado" e disse que há necessidade de manter investimentos em Saúde e Educação. Lula afirmou ainda que não quer que empresários tenham prejuízos, mas criticou a "Faria Lima" e defendeu "repartir o pão de cada dia em igualdade de condições".

Hoje, o Conselho Monetário Nacional (CMN) vai se reunir para deliberar sobre a manutenção da meta de inflação em 3% (15h) e ainda será divulgado o resultado do Governo Central de maio, que pode vir com déficit após superávit e reforçar os temores fiscais. No exterior, a agenda está esvaziada.

Às 11h15, o Ibovespa cedia 0,56%, aos 121.647,94 pontos, ante recuo de 0,76%, aos 121.402,00 pontos, na mínima. Vale subia 1,20% e Petrobrás avançava entre 0,05% (ON) e 0,01% (PN).

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