O Ibovespa abriu perto da estabilidade nesta terça-feira, 2, mas logo aprofundou a queda no primeiro dia útil de maio, dado que, na segunda-feira, não operou devido ao feriado em celebração ao Dia do Trabalho. Por ora, há mais vetores negativos do que positivos em semana de decisão sobre juros, agenda pesada e divulgação de balanços importantes aqui e no exterior.
Em meio à espera por a alta de juros nos Estados Unidos e na Europa, amanhã e quinta-feira, respectivamente, os investidores adotam certa prudência, após a compra do First Republic pelo JPMorgan elevar as apostas de mais aperto monetário, sobretudo do norte-americano à frente. Além disso, há novos sinais de arrefecimento da atividade, especialmente depois de dados europeus fracos e nos Estados Unidos. As bolsas por lá cedem e o Ibovespa pega carona, caindo para a faixa dos 101 mil pontos, depois de abrir aos 104.431,23 pontos, com variação zero.
A sensação entre os investidores é que o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) poderá manter-se agressivo em suas decisões sobre juros, em meio a sinais de arrefecimento da atividade. "Com supostamente a crise bancária dando algum respiro pontual, o Fed pode ser mais duro e focar mais no combate à inflação, e isso pesa, indicando menos demanda. É uma aversão a risco que afeta principalmente os emergentes", avalia Alan Dias Pimentel, especialista em renda variável da Blue3 Investimentos. "O Fed pode ficar mais flexível para apertar mais continuar apertando, deixando os juros altos por mais tempo", completa.
Porem, pondera Luiz Roberto Monteiro, operador da mesa institucional da Renascença, o quadro com a situação dos bancos, especialmente nos EUA, ainda é de cautela, em meio a sinais de esfriamento do crédito. "Lá fora, a situação é ruim, com queda forte das bolsas e do petróleo. Segue a preocupação com os bancos médios e pequenos", diz.
No Brasil, a estimativa majoritária é de manutenção da taxa Selic em 13,75% ao ano, mas com espera do mercado por algum sinal de alívio nos próximos encontros. Novamente, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva atacou a política de juros, em ato do 1º de Maio. A pesquisa Focus mostrou aumento nas estimativas para o IPCA deste ano, enquanto as projeções para a taxa Selic até 2025 permaneceram inalteradas e para 2026 subiram de 8,75% para 8,88% ao ano.
Conforme o economista Silvio Campos Neto, sócio da Tendências Consultoria, a cautela externa mantém os ativos sem espaço para avanços, em especial o Ibovespa, que permanece afetado pela fraqueza das bolsas globais e das commodities. O petróleo cai quase 3,60%, abaixo de US$ 80 o barril, e o minério de ferro recuou 0,97% em Dalian, na China.
"A situação fiscal segue no radar, com os mercados avaliando o anúncio de MP que tributa investimentos no exterior e a confirmação, pelo presidente Lula, da retomada da regra de reajustes do mínimo e da isenção de IR até dois salários mínimos. Uma visão defensiva pode predominar, de olho também no início da tramitação do novo arcabouço", afirma em nota o economista da Tendências.
Na sexta-feira, o Ibovespa fechou em alta de 1,47%, aos 104.431,63 pontos, com valorização de 2,50% em abril. "Foi um mês difícil, de volatilidade com preocupações com inflação e juros globais altos, além de crise bancária", avalia em comentário matinal o economista Álvaro Bandeira. Em sua avaliação, seria importante o Índice Bovespa retomar a marca dos 106 mil pontos, na tentativa de consolidar uma recuperação.
Às 11h38, o Ibovespa caía 2,48%, aos 101.843,16 pontos, perto da mínima diária dos 101.830,76 pontos (-2,49%).