A Avibras Aeroespacial, principal fabricante brasileira de sistemas pesados para o mercado de Defesa, entrou ontem com pedido de recuperação judicial. Como consequência, a empresa demitiu 420 funcionários. O quadro remanescente de pessoal é agora de 900 pessoas.
O processo foi ajuizado no fórum de Jacareí (SP), onde fica a sede do grupo. Essa é a terceira vez que a empresa renegocia suas dívidas judicialmente. O procedimento foi adotado anteriormente em 1990 e em 2008. O valor da recuperação é estimado em R$ 570 milhões.
A Avibras produz o sistema lançador de foguetes e mísseis Astros-2020, veículos blindados e equipamentos eletrônicos de emprego militar. Além de atender às Forças Armadas do Brasil, exporta para países do Oriente Médio, Ásia e América Latina.
Segundo o advogado responsável por protocolar o pedido de recuperação da companhia, Nelson Marcondes, do escritório Marcondes Machado Advogados, a pandemia foi a grande responsável pelo atual momento da empresa. De acordo com Marcondes, a empresa tentou segurar o máximo que pode para não demitir parte de seus 1,5 mil funcionários, porém isso não foi possível em 2022.
A companhia sofreu com a mudança de prioridade de países ao redor do mundo durante a crise sanitária. Com a proliferação do vírus, diversas nações diminuíram os gastos com a área de defesa e passaram a investir mais em saúde.
Além disso, segundo Marcondes, a impossibilidade de realizar viagens também complicou a situação da Avibras. Afinal, boa parte das vendas da companhia é feita através de feiras e contatos no exterior. Treinamentos para utilizar os equipamentos também precisam ser presenciais.
O advogado ainda afirma que a empresa já está elaborando um plano de recuperação e que aguarda a decisão da Justiça para dar prosseguimento ao processo. O contato com os credores já está sendo feito, de acordo com Marcondes.
"A empresa tentou segurar o máximo, mas já estamos vendo o mercado se movimentando novamente e a Avibras tem grandes perspectivas de contratos que estão sendo trabalhados", afirma Marcondes.
<b>História</b>
A Avibras Aeroespacial tem pouco mais de 60 anos. Criada pelo engenheiro João Verdi de Carvalho Leite – morto em 2008 quando o helicóptero que pilotava caiu num trecho de serra no litoral norte paulista -, a empresa lidera o setor da indústria de Defesa no País.
Fortemente vinculado ao mercado externo, o grupo teve, durante anos, dificuldades com os procedimentos da área econômica do governo. "Somos tratados pelas agências públicas da mesma forma que os exportadores de frutas ou frangos", dizia João Verdi.
Em várias ocasiões, tendo sólidos contratos em carteira, a Avibras esteve perto de perder negócios internacionais de centenas de milhões de dólares por causa da burocracia federal.
Os sistemas Astros-2 e sua versão mais moderna, o Astros-2020, são usados pelo exército da Arábia Saudita, no conflito com os rebeldes houthis, no Iêmen. Antes disso, na guerra do Golfo, em 1991, foram empregados pelo Iraque e entraram na lista de alvos prioritários dos caças da coalizão liderada pelos Estados Unidos.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>