Por mais reduzido que seja o grupo, existem diretores brasileiros de carreira internacional. Walter Salles, Fernando Meirelles, Karim Aïnouz, Kleber Mendonça Filho. Em entrevista à publicação <i>Screen</i> sobre a atual dificuldade de produção no Brasil, durante a Berlinale (Festival de Cinema de Berlim), Emilie Lesclaux, mulher e produtora dos filmes de Kleber, disse que sempre se pode contar com pequenos fundos de apoio à produção em Pernambuco, e eles ajudam a alavancar apoio de fora para os filmes do marido. Premiado no ano passado em Cannes por <i>Bacurau</i>, Kleber foi jurado este ano em Berlim. Na Berlinale, coube-lhe entregar o Urso de Prata de direção – para o sul-corerano Hong Sang-soo, de <i>The Woman Who Ran</i>.
<i>Bacurau</i> é a atração desta segunda, 9, no Telecine Premium, às 19h35. O filme inscreve-se numa tendência que foi dominante nos maiores festivais, em 2019. Outro sul-coreano, Bong Joon-ho, venceu em Cannes com <i>Parasita</i>, que depois teve aquela consagração no Oscar. <i>Joker/Coringa</i>, de Todd Philips, ganhou Veneza. <i>Bacurau</i>, de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles – não se pode esquecer que se trata de uma codireção – e <i>Os Miseráveis</i>, de Ladj Ly, dividiram o prêmio do júri.
Todos esses filmes podem ser agrupados sob uma bandeira. Colocam na tela a revolta dos excluídos como grande tema do cinema em 2019, e a uma resposta, tão estética quanto política, à desigualdade social.
No Brasil, <i>Bacurau</i>, compreensivelmente, teve seus detratores e o filme terminou não sendo escolhido para representar o Brasil no Oscar. A curiosidade é que, coincidindo com a chegada de <i>Bacurau</i> à TV paga, o filme foi assistido em Londres, na sexta-feira, 6, por Bong Joon-ho. O diretor de <i>Parasita</i> comprou ingresso, sentou-se discretamente, mas foi flagrado pelos diretores que, no fim da sessão, participaram de um debate com o público. Eles agradeceram sua presença, Bong saiu apressado depois que as atenções se voltaram para ele.
Localizado pela BBC Brasil, só teve elogios. Gostou do filme e da experiência de assistir a <i>Bacurau</i>. "É muito bonito, possui uma energia única e traz uma força enigmática e primitiva."
No debate, Kleber e Juliano destacaram a situação terrível da produção brasileira e Bong Joon-ho disse esperar que o governo brasileiro "apoie mais o cinema". O filme se passa nessa cidade do sertão que, de repente, some do mapa. As comunicações são interrompidas e um grupo de mercenários, liderado por um gringo, inicia a chacina. A população reage pegando em armas.
O resultado é a tal energia destacada pelo autor de <i>Parasita</i>. Bong sabe do que está falando. Há pouco assumiu a direção de redação da revista <i>Sight and Sound</i>, especializada em cinema, num número memorável dedicado ao cinema mundial. <i>Bacurau</i> marca a segunda parceria de Kleber com Sonia Braga, após <i>Aquarius</i>. Do elenco, também participam Ugo Kier, Barbara Colen, Silvero Pereira, Thomás Aquino.