Os moradores de dezenas de condomínios da Cohab Santa Etelvina, em Cidade Tiradentes, zona leste de São Paulo, estão ficando de dois até seis dias por semana sem água. O problema é que, após ameaças a funcionários, a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) começou a realizar manobras para redução do consumo diretamente no reservatório que abastece o bairro.
O motorista Ubirajara de Souza Rocha, de 39 anos, síndico de um dos condomínios, disse que já precisou comprar três caminhões-pipa para encher os 30 mil litros da caixa dágua, que já secou algumas vezes desde janeiro. “Quando falaram que o rodízio ia ser de cinco dias por semana (afirmação feita pelo diretor da Sabesp Paulo Massato, em uma audiência pública no dia 27 de janeiro), já estávamos até preparados. É normal ficar até seis dias sem uma gota entrando no reservatório”, disse.
Ele se refere ao último período longo sem água, que foi da noite de 11 de fevereiro até a madrugada do dia 18, na Quarta-feira de Cinzas. “Durante o carnaval, eu precisei desligar a bomba do reservatório. Os moradores precisaram descer quatro andares para levar a água até o apartamento em baldes.”
Ainda na semana passada, a dona de casa Sônia Regina, de 61 anos, ligou oito vezes para o telefone 195 da Sabesp, que recebe queixas. “Eles falavam que eu estou na redução de pressão e eu respondia dizendo que era corte de água mesmo.” Sônia agora compra garrafas e estoca água no banheiro para conseguir limpar o apartamento. “Eu tenho sorte de morar no 1º andar e não ter de ficar subindo e descendo escada com balde.”
Procurada, a Sabesp alegou que no dia 12 de fevereiro foi registrada falha no booster, que bombeia a água para as partes mais altas da região, corrigida no dia seguinte. A empresa estadual também nega haver “intermitência contínua” de água na região e afirmou que monitora diariamente o local.
No entanto, novo problema de abastecimento era notado no bairro no fim de semana e na segunda-feira. A Sabesp ainda alegou que a região está em “área de redução de pressão” e imóveis em locais mais altos podem levar mais tempo para “restabelecer o fornecimento de água”.
Manobra
O problema, segundo o jornal O Estado de S. Paulo apurou, estaria mais ligado à dificuldade da empresa em realizar manobras de redução de pressão – a prática vem sendo adotada em toda a região metropolitana com o objetivo de reduzir a crise no Sistema Cantareira. Anteriormente, essa ação era feita manualmente em registros na Rua Nascer do Sol. Mas, segundo funcionários da Sabesp, o fechamento foi transferido para o reservatório por questões de segurança, após ameaças da população feitas diretamente a funcionários.
O fechamento dos registros ocorria no booster. Como agora a operação é feita antes de a água entrar no reservatório, ela demoraria mais tempo para encher o reservatório local – capaz de armazenar cerca de 15 milhões de litros de água.
Com isso, o abastecimento fica prejudicado, uma vez que para a água chegar às partes mais altas precisa, antes, preencher os reservatórios que ficam antes do booster.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.