Não só condomínios vazios do Minha Casa Minha Vida (MCMV) são invadidos por traficantes no Rio. Além de Guadalupe (zona norte), onde criminosos participaram no fim de semana da ocupação de prédios prestes a ser entregues, o tráfico de drogas tomou conta do projeto-modelo de política habitacional da prefeitura. Inaugurado em 2012 pela presidente Dilma Rousseff e onde moram cerca de 9 mil pessoas, o Bairro Carioca, em Triagem, também na zona norte, foi construído com recursos federais, por meio do MCMV.
Ali quem manda é o Comando Vermelho. Na frente da recém-inaugurada Nave do Conhecimento (sede de projeto de inclusão digital da prefeitura) fica uma das bocas de fumo. Traficantes não se importam em ostentar armas nas ruas do condomínio. “O tráfico está aqui desde o começo mas, de uns seis meses para cá, piorou”, contou uma moradora.
Essa história não é inédita no Rio. Comunidades como Cidade de Deus, na zona oeste, surgiram a partir de conjuntos habitacionais da década de 1960. Apesar de ter uma UPP, a favela ainda é dominada pelo CV.
Para o sociólogo Paulo Magalhães, do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (IETS), é o que acontecerá não só com o Bairro Carioca, mas com todos os condomínios do MCMV no Rio.
Pesquisadora do Laboratório de Estudos Urbanos da Fundação Getúlio Vargas (FGV), a antropóloga Mariana Cavalcanti alerta que não só a segurança pública é o problema, mas o modelo habitacional, mais focado em construções populares do que na urbanização de comunidades já existentes.
“Pessoas que sempre viveram na informalidade são obrigadas a viver no mundo real, sem qualquer assistência do poder público, com regras e pagamento de taxas”, diz a professora. Homens e mulheres de variadas comunidades são colocados no mesmo lugar. Só no Bairro Carioca, ocupam os 2.240 apartamentos ex-moradores de 32 favelas dominadas por facções criminosas inimigas.
Malandro e vagabundo
O prefeito Eduardo Paes (PMDB) chamou ontem de “malandro e vagabundo” as cercas de 200 pessoas que ocupam o condomínio de Guadalupe. “O Minha Casa Minha Vida é para pessoas humildes, que esperam a sua vez para ter uma casa própria”, disse. Sobre o Bairro Carioca, Paes admite o problema e diz ter acionado a Secretaria de Segurança.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.