Após mais de um ano longe dos palcos, o Balé da Cidade abre nesta quinta, 25, sua temporada 2021. Com Casa e Transe – duas coreografias inéditas e concebidas especialmente para o seu corpo de baile -, a companhia retorna ao Teatro Municipal com a expectativa de reencontrar o público para um espetáculo presencial. "Tivemos algumas experiências virtuais, com cada um dançando na sua casa. Mas é tudo muito diferente de estar no teatro", diz Marisa Bucoff, dançarina do Balé da Cidade que assina a coreografia de Casa. "Foi um período de muitas incertezas. Ainda estamos em uma fase flutuante, de muitos senões, muitas condicionantes. A cada dia, é uma torcida, para que todos continuem bem e a gente possa estrear."
Brasileiro radicado em Berlim, Clébio Oliveira planejava havia mais de 15 anos a realização de seu primeiro trabalho em parceria com o Balé da Cidade. "Achava que deveria estar pronto quando a oportunidade surgisse. Então, guardava essa ideia desde 2006", conta ele, que já assinou três coreografias para a São Paulo Companhia de Dança e é um dos mais festejados criadores da cena atual.
Ainda que o mote de Transe estivesse definido há tanto tempo, as imbricações com o presente chamam a atenção. A proposta emula uma espécie de festa infinita, em um nítido desejo de fuga da realidade. "Nessa minha utopia, é como se estivéssemos diante de um ritual futurista de êxtase coletivo", sentencia Oliveira. "Se todas as pessoas do mundo pudessem ser vacinadas hoje, ao mesmo tempo, qual seria o tamanho da festa que iríamos dar?"
Nessa "festa", contudo, o distanciamento social continua valendo. Dividida em dois momentos distintos, a coreografia traz, inicialmente, constantes entradas e saídas do palco, sem que os dançarinos se encontrem. Na segunda parte, mesmo que os corpos dividam o mesmo espaço e vivam um transe coletivo, sua desconexão permanece. "Cada um está mergulhado em seu universo particular", observa o criador. É com esse espírito que ele propõe um dueto no qual os intérpretes não se tocam e as movimentações em uníssono preservam nuances individuais de cada bailarino.
Se Transe sugere um radical desvio do real, Casa segue em rumo oposto, mergulhando nas sensações e incertezas impostas pelo isolamento. "Como é voltar à cena, depois de tanto tempo separado, para dançar junto?", questiona Marisa Bucoff, integrante da companhia há 21 anos, que assina agora sua primeira peça para o repertório. Além do ambiente doméstico explicitamente mencionado no título, a obra também perscruta o espaço do trabalho, entendido aqui como uma extensão da casa e da família e, no limite, o próprio corpo.
Para os espectadores que forem ao teatro, as duas coreografias serão apresentadas em um programa único. Quem preferir assistir pelo canal do TM no YouTube poderá acompanhar, ao vivo, Casa no dia 27 (20h) e Transe no dia 28 (17h35).
<b>Sob nova direção</b>
O Balé da Cidade comemora seu aniversário de 53 anos neste mês em compasso de espera. Após uma série de denúncias de assédio moral, Ismael Ivo, coreógrafo e dançarino que comandava o corpo de baile desde 2017, foi demitido em outubro.
A Santa Marcelina Cultura, que só em novembro assumiu a gestão do Municipal em caráter emergencial, não se manifesta sobre a demissão, mas garante em nota que o caso terá um desfecho em breve. "Estamos com um processo seletivo em curso para a nova direção do Balé da Cidade de São Paulo e, ao término, o resultado será anunciado conjuntamente com a Fundação do Teatro Municipal de São Paulo."
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>