Na avaliação do secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Guilherme Mello, o balanço de riscos para a inflação no País tem mudado devido a eventos recentes como as crises das lojas Americanas no Brasil e de alguns bancos estrangeiros, como o Silicon Valley Bank (SVB) dos Estados Unidos, e o Credit Suisse. "Isso certamente vai ter impacto na atividade econômica global e nas pressões inflacionárias", afirmou nesta quarta-feira, 22, em entrevista ao canal <i>GloboNews</i>.
De acordo com Mello, eventos como a crise da Americanas e de outras empresas brasileiras com dificuldade de recuperação fiscal deixam claro o aperto das condições financeiras e o aumento do custo do crédito no País. "Tem afetado diretamente a própria viabilidade de uma série de setores da economia", comentou.
Para o secretário, eventos do tipo podem gerar um cenário mais generalizado na economia e, por isso, o Banco Central (BC) deve estar "atento". "Nosso sistema financeiro é bastante sólido, mas as empresas estão sofrendo pelo crédito apertado", afirmou. "Se essas condições mudarem, com o BC olhando os juros com mais cautela, isso reflete no balanço de riscos, com revisões de crescimento da economia do Brasil", acrescentou Mello, dizendo que irá aguardar a visão do mercado sobre o assunto e o conteúdo da ata do Comitê de Política Monetária (Copom), que se reúne novamente nesta quarta e deverá divulgar ata da reunião na próxima terça-feira.
<b>Atividade</b>
O secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda afirmou ainda que as políticas públicas do governo federal podem acelerar um crescimento mais robusto da economia brasileira. O governo projeta atualmente alta de 1,6% para o Produto Interno Bruto (PIB) em 2023. "É plenamente possível crescer mais que isso se conseguirmos melhorar condições de crédito", disse, na entrevista.
Na avaliação do secretário, o fato de o País ter atualmente taxas de juros elevadas, crescimento da inadimplência e dificuldade do acesso ao crédito levou a redução da perspectiva do atual governo para o crescimento do PIB neste ano, que era de 2,1% na estimativa do governo anterior. "O principal fator para essa redução de 2,1% para 1,6% foram as condições do mercado de crédito", comentou.
Sobre o fato de as projeções do governo federal para o PIB neste ano estarem mais otimistas que as do mercado, Mello afirmou que a previsão da Pasta "tem muita base", com os modelos de crescimento da secretaria apresentando avanço de ao menos 1,5%.
"A mediana do boletim Focus prevê 0,9%, mas isso esconde uma diferença muito grande de projeções. Ontem estava reunião com três agentes do mercado cada um com uma projeção de crescimento, um com 0,8%, outro com 1,0% e outro com 1,5%", comentou Mello.