Variedades

Ballet de Santiago apresenta em São Paulo coreografia inspirada em romance grego

No filme de Michael Cacoyannis, de 1964, Alexis Zorba fala para o inglês Basil que ele tem tudo, menos uma coisa: loucura. “Um homem precisa ser um pouco louco, senão, nunca vai ousar cortar as amarras e ser livre”, diz o personagem, que consagrou Anthony Quinn. Basil (Alan Bates), então, pede para que o grego o ensine a dançar. E que outro jeito de ser mais livre do que esse? A partir desta sexta (15), o público brasileiro poderá conferir um Zorba, O Grego diferente, inteiramente dançado, durante a turnê do Ballet de Santiago pelo País. A companhia chilena é dirigida desde 2004 pela brasileira Marcia Haydée.

O grupo passará por São Paulo (entre esta sexta e domingo, 17, no Teatro Alfa), Belo Horizonte, Rio, Curitiba e Porto Alegre. A última vez que havia se apresentado no Brasil foi em 2005, com a versão de Carmen, criada por Marcia. Os 55 bailarinos da companhia participarão dos espetáculos, entre eles as brasileiras Andreza Randisek (primeira-bailarina estrela, posto mais alto dentro do Ballet de Santiago), Michele Bittencourt e Lara Gonçalves Costa, que integram o corpo de baile.

Lorca Massine – filho do bailarino e coreógrafo russo Leonide Massine (1896-1979), uma das lendas da dança – criou sua versão de Zorba, O Grego em 1988. Inspirou-se no livro homônimo de Nikos Kazantzakis (1883-1957) que, por sua vez, deu origem ao filme. A música e o libreto são de Mikis Theodorakis, que também compôs a trilha do longa-metragem. A obra foi apresentada pela primeira vez no Brasil em 1994, com o Ballet da Ópera de Varsóvia.

Foi Marcia quem levou Lorca Massine para recriar Zorba para o Ballet de Santiago, há cerca de quatro anos. “É um grande espetáculo. Temos o Rodrigo Guzmán, quem vem do sul do Chile, de Punta Arenas, que hoje é considerado o Zorba do mundo. Tanto que quando Lorca remontou a obra na Itália, mandou chamar o Rodrigo, porque disse que não tem outro que possa fazer como ele. Rodrigo Guzmán é o Anthony Quinn do balé”, contou a bailarina, por telefone, ao Estado. “Esse balé, a música e a energia desses bailarinos no palco é tão forte que mexe com você. Uma vez que vive esse momento, você não se esquece nunca mais.”

Experiência

Uma das maiores personalidades da dança no mundo, a niteroiense reinou absoluta no Stuttgart Ballet, na Alemanha, a partir de 1961, quando recebeu de John Cranko (1927-1973) um contrato de primeira-bailarina – ela havia feito audição para o corpo de baile. Com a morte prematura de Cranko, Marcia assumiu também a direção da companhia, sem parar de dançar.

Esteve a primeira vez no Chile nos anos 1980, quando foi convidada para apresentar A Megera Domada com Richard Cragun (1944-2012), seu maior parceiro. Nos anos 1990, remontou O Pássaro de Fogo para o Ballet de Santiago. Na ocasião, surgiu o convite para dirigir o grupo. Entre 1992 e 1995, liderou a companhia chilena enquanto ainda comandava o Stuttgart Ballet. Em 1996, deixou o posto na Alemanha. Ficou dois anos afastada dos palcos. Em 2004, voltou para o Chile. Desde essa época, permanece pelo menos sete meses por ano em Santiago. O tempo que sobra passa em sua casa na Alemanha e em viagens pelo mundo para remontar seus balés. No ano passado, criou O Sonho de Dom Quixote para a São Paulo Companhia de Dança, sua primeira obra para o Brasil.

Marcia conta que, na América do Sul, precisou reaprender a dirigir uma companhia. “Teve uma grande diferença, mas não porque era na Europa, e sim porque era em Stuttgart. Por tudo o que aconteceu com John Cranko lá, o sucesso que a companhia teve, a morte dele aos 46 anos, eu tomando a direção. É uma história muito forte. Teve um fanatismo com o Ballet de Stuttgart. Então, qualquer coisa que eu pedia para a companhia, me davam. Nunca houve problema. Digo que era a época de ouro, porque conseguíamos tudo”, diz. “No Chile, era outro caminho. Ter mais paciência. Não existia a mesma rapidez. Tudo é diferente. Para dirigir uma companhia, você tem de conhecer muito bem a mentalidade do país, da cidade onde está. Cada teatro tem sua maneira de ser. Se eu agora tomar outra companhia, não vou fazer o mesmo que fiz no Chile. Tenho de reencontrar como fazer funcionar de outra forma.”

Entre as principais conquistas de Marcia à frente do Ballet de Santiago está um repertório com obras dos maiores coreógrafos do século 20, de quem a brasileira foi musa, como Maurice Béjart, John Neumeier, Kenneth MacMillan e Jirí Kylián. “Tenho uma maneira de ser. Não é que eu seja uma diretora, sou uma bailarina que dirige uma companhia. Conheço muito bem a mentalidade dos bailarinos. Sei o que querem, e eles se sentem amparados por mim”, explica. “Vejo a companhia como se fosse um jardim. Se você tem muitas plantas, tem de saber se uma planta precisa de sol ou de sombra. Uma precisa de muita água, a outra não. É a mesma coisa com os bailarinos. Você tem de conhecer cada um como pessoa.”
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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