Depois de dois anos de previsões e cenários mais otimistas, o Banco Central cravou o resultado da inflação para 2014. A projeção do BC era de que o IPCA fecharia o ano passado em 6,4%, o que ficou em linha com o resultado divulgado nesta sexta-feira, 9, pelo IBGE, de 6,41%.
A última vez que a autoridade monetária tinha acertado o valor havia sido em 2011, quando o indicador oficial de custo de vida fechou em 6,5%. Nos dois anos seguintes, a instituição errou, desenhou um cenário melhor em mais de um ponto porcentual.
Agora, a autoridade monetária adota um tom mais realista na sua comunicação e tem admitido que a inflação, em 2015, será resistente. A despeito disso, o BC garante que fará o necessário para ainda este ano dar início a um período de longo declínio do IPCA.
A previsão oficial do Banco Central, que consta no último Relatório Trimestral de Inflação, ainda não mostra o IPCA em 4,5%, mas pelo menos evidência o movimento de “longo declínio” projetado pela diretoria da instituição.
Ao fim de 2016, quando termina o chamado horizonte relevante para a política monetária, o custo de vida estará em 5% – ainda 0,5 ponto porcentual acima do centro da meta. Esse dado, no entanto, pode ser revisado, para cima ou para baixo, a depender do andamento da economia.
Carlos Thadeu de Freitas, ex-diretor do BC e atual economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC), avalia que o Banco Central está mais realista para o segundo mandato da presidente Dilma Rousseff. “O mais importante é o relatório de inflação publicado no ano passado, quando ele disse que o IPCA vai chegar no centro da meta em 2016. Isso é uma boa dose de realismo”, afirmou.
O economista disse ainda que o BC não pode celebrar o fato de a inflação do ano passado ter ficado em 6,41%, abaixo do teto da meta, mas muito próximo do limite de tolerância de 6,5%. “O BC não pode comemorar se tem uma inflação muito longe do centro da meta. No entanto, apesar disso e de todos os problemas do ano passado, pode-se dizer que ele fez um trabalho satisfatório. Ele se ajustou à conjuntura e saiu com um saldo positivo”, argumentou.
Para André Perfeito, economista-chefe da Gradual Corretora, as variáveis que a autoridade monetária trabalha são mais complexas e por isso há risco de erro nas previsões. “Em alguma medida, não é que ele vai ser mais realista, o grau de complexidade é muito grande, diferentemente das previsões de PIB que o ministro Mantega (ex-ministro Guido Mantega) fazia”, disse.
Perfeito ponderou ainda que o BC está fazendo um grande esforço para controlar o custo de vida, trabalhando em ambiente de incerteza e com muita volatilidade em ativos. O economista considerou ainda que os desafios da equipe econômica são complexos, mas pelo menos está claro que os integrantes dela estão trabalhando em conjunto. “O BC tem hoje em dia uma cooperação muito grande dos outros elementos da equipe econômica”, afirmou.